sexta-feira, 23 de novembro de 2012

FESTA DE CRISTO REI - FESTA DE TODA A HUMANIDADE REDIMIDA



Murah Rannier Peixoto Vaz
 
Neste domingo, 34º do tempo comum, a Igreja encerra seu calendário litúrgico com a festa de “Cristo Rei do Universo”.

A realeza e a soberania de Jesus são inigualáveis, seu poder e autoridade estão a serviço de todos, de modo preferencial, mas não exclusivo, dos pequenos, dos pobres, dos fracos e excluídos da sociedade.

Jesus é um Rei-Pastor, rei pobre, humilde, que não vem para ser servido, mas para servir. Nisto consiste todo o esplendor do Cristo Rei: os menores serão os maiores e os maiores serão os menores em Seu Reino messiânico. Tal Reino já foi instaurado e está no meio de nós, ainda que não em sua plenitude e, infelizmente, possua luzes e trevas, avanços e retrocessos, mas é o Reino de um povo a caminho, o “povo de Deus”, povo peregrino que sabe aonde quer chegar e por onde deve passar. Celebrar Cristo Rei é celebrar a festa de toda a humanidade redimida que, pelo batismo, foi enxertada no Cristo e hoje é parte de seu corpo místico (a Igreja) que se estende sobre toda a terra.
 
 


ORAÇÃO
 



Senhor e Rei de minha vida,

Vos peço, jamais me abandones,

Estejas sempre comigo

e ajuda-me a permanecer em Ti.

Só a Ti pertencem a honra, glória e poder,

sabedoria, louvor e divindade.

 

Tua bondade supera todo o entendimento.

Entrego a Ti toda a soberania

para que reines em minha vida

e governe-a.

Tu és o meu tudo,

em Ti repousa a minha esperança.

 

Da indigência retiraste-me,

ergueste-me da miséria que outrora fora

para enriquecer-me com o Teu amor.

Arrancaste-me das cadeias de meu egoísmo,

quebraste-me o grilhão do individualismo,

libertaste-me de meu narcisismo.

 

Mas, sempre outra vez,

sou necessitado que Tu venhas

e resgate-me, de novo e de novo,

para reconduzir-me ao Teu caminho,

à Verdade plena e à fonte de vida.




Obrigado, Senhor, pelos dons que me concedes.

Ajuda-me a estar a serviço, a ser serviço,

doação e entrega pelo irmão.

Em Tua Igreja antevemos e gozamos das primícias do Reino,

Participamos de Vosso banquete Eucarístico,

Nele recebemos o Teu corpo dado e o Teu derramado.

 

Inquieto estava o meu coração,

até encontrar e experimentar da Tua amizade e do Teu infinito amor.

A Teu exemplo, prevaleça o altruísmo.

Olhando a Ti, indica-nos Teus gestos de caridade.

Resplandeces, Senhor, Tua face amorosa sobre a terra,

renova-a, a começar por mim...

 

Dignifica-nos, Senhor,

faz-nos melhores,

e leva-nos a contemplar-vos na Santíssima Trindade.

Dá-nos vê-la face a face

e a participar do banquete eterno

do Teu Reino.

 
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

CONTRASTES

 
Murah Rannier Peixoto Vaz
 
Sopra a brisa suave
Estrondam-se os céus
O eterno se faz visível
Como por detrás de um véu
 
Revela e desvela
Rebaixa e eleva
Contorce os carvalhos do Líbano
Dobra o orgulho e a soberba
 
Braço estendido e brado poderoso
Estirado e apregoado na árvore viva
Brada forte, por misericórdia e perdão
Despedaça muralhas de divisão
 
Agora as vistas se embaçam
A visão se obscurece
Mas o vemos na fração do pão
Que alimenta, salva, e vida eterna merece.
 
Ainda há de vir a plena visão
E os que vêem por detrás do véu,
No tempo da consumação,
Hão de ver a face de Deus!!!!!!!!!!

 


segunda-feira, 12 de novembro de 2012

LIBERDADE PARA AMAR


 

Murah Rannier Peixoto Vaz


Caminho... pés descalços sobre o chão

As pedras ferem-me os pés, mas não me causam dor

De suas feridas brota amor

O pó da terra fecundado pelo melaço que jorra

Torna-a fértil

Que a vida que aqui irrompe viceje

Produza frutos e alimente bocas

Bocas que não se fecham

Em meio a tanta fome de justiça e de pão.

 

Mesmo as árvores mais centenárias

Um dia cumprem seu erário

Voltando definitivamente a ser uma só com a mãe terra

Como também nós que, ao fim de tudo, somos pó

Dele viemos, a ele voltaremos

Pois a esta vida nada trazemos e nada levaremos

 

Caminho... pés descalços sobre o chão

Em busca de associar-me à terra

Numa ânsia de nela enraizar-me

Para que uma relação mutualista

Possamos partilhar.

Que os frutos produzidos arrebentem suas vagens

E que o irmão vento se encarregue de as sementes levar

Essas também nasçam, cresçam, floresçam

E Produzam novos frutos

 

E o que resta afinal?

Um solo fértil, uma floresta esplendorosa

Contendo os frutos e as sementes

Da única coisa em nós que permanecerá...

Ah, bendito melaço derramado

Bendito aquele que se doa!

Jamais morrerá, eternizar-se-à em seus frutos de amor.


COMUNHÃO E PARTICIPAÇÃO

 
 


Murah Rannier Peixoto Vaz

Levante-se e venha para o meio

Não demores...

Levanta-te e vem!

 

“Opa”, espere... Vou aí ajudá-lo

Como irmão apoiá-lo

Vou ao teu encontro.

 

Vamos juntos

Braços dados

Vamos...

 

Até Jesus se deixou ajudar

O Cirineu tomou a cruz

E o ajudou a levantar.

 

Vem para o meio, irmão!

E você, pode ajudar também?!?

Vem...

FÉ E TESTEMUNHO

 
História contada por Nelson Alves/
Versão por Murah Rannier Peixoto Vaz
 
Um homem entrou em ônibus após sair do trabalho para ir à Igreja. Lá iria encontrar-se com sua mulher e filhos na porta daquele local. Esse trajeto era-lhe habitual, sempre o fazia, especialmente aos domingos, quando iam todos juntos.
Entretanto, naquele dia, ao subir ao ônibus, pagou sua passagem, recebeu o troco e continuou caminhando. Um pouco adiante percebeu que o motorista errara ao dar-lhe o troco. Havia ali um real a mais. Pensou consigo: “Mas o que são um real a mais ou a menos”, colocou o dinheiro no bolso e sentou-se.
No decorrer do trajeto, assim como trepidava o ônibus com as freadas bruscas e as curvas, seus pensamentos estavam agitados. Sua consciência o acusava do erro que estava cometendo. Arrependido, aquele homem resolve devolver o que havia recebido a mais. Alguns quarteirões antes do ponto em que desceria, o qual ficava defronte à Igreja, levantou-se de seu lugar e foi até o motorista.
Repentinamente o ônibus parou em um semáforo e aquele homem chamou ao motorista lhe dizendo: “Acho que o Sr. se enganou e me voltou um pouco a mais. Surpreendentemente, o motorista lhe respondeu: “Não, eu não me enganei. Fiz de propósito! Sinto que me falta algo, tenho procurado algum tipo de fé. Vejo-o com sua família indo à missa todos os domingos e, às vezes, como hoje, até em dias de semana vocês se encontram após o seu trabalho para a oração. Pensei comigo: ‘Deixe-me ver se a fé dele é diferente e se a sua religião o faz diferente dos outros. Pois bem, agora me convenci”.
O motorista pediu perdão por sua atitude e agradeceu aquele homem por ajudá-lo. Atônito, o homem voltou ao seu banco e pensava: “Meu Jesus... Judas te traiu por trinta moedas de prata e eu quase te traí por um real”...

ABRIGADOS À SOMBRA DA CRUZ



Murah Rannier Peixoto Vaz
 
A casa de tábua

A casa de lata

A casa de papelão

Casa daqueles que sofrem nesse chão.

 

Muitos passam por eles...

Os veem, mas não os sentem.

Os ouvem, mas não os acolhem.

Passam... mas não se aproximam.

 

A mansão do ricaço de concreto e aço

Ocupa um quarteirão.

O casebre do pobre se equilibra

Sobre a nobre barranca do ribeirão.

 

Realidade que contrasta, agride e afasta

Os que não têm um pedaço de pão.

Desprezados e humilhados

Novamente hoje é dia de crucificação.

 

Dai senhor enxerga-los e senti-los

Ouvi-los e acolhê-los.

Promove em cada um a conversão.

Te peço Senhor, comece pelo meu coração.


 

 
 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

IGREJA & COMUNHÃO DOS SANTOS



Murah Rannier Peixoto Vaz
 
O dia 1º de novembro é o dia de "Todos os Santos", conhecidos e desconhecidos, reconhecidos ou anônimos. Por sinal, a Igreja Católica é um celeiro de santas vocações e isso ocorre em todos os períodos de sua história, mesmo em seus momentos difíceis. Isso porque a Igreja é Santa, ela é o corpo místico de Cristo (1 Cor 10,16-17) inserido na história e o corpo de Cristo (a Igreja) unido à sua cabeça (Cristo) não é um corpo pecador. A Igreja também é Sacramento de Cristo e, por esse motivo, Sacramento Universal da Salvação. De tal modo, uma multidão de homens e mulheres que passaram pela morte nos antecedem e já gozam das delícias celestes (Hb 12, 1).


 
Pelo Batismo, a Igreja gera novos filhos e filhas pela graça do Espírito Santo. Este mesmo Espírito a renova e a faz sempre nova, sem mácula e nem ruga, para apresentar-se santa e irrepreensível diante de seu divino esposo com quem se uniu de tal forma que se tornaram uma só carne. Essa união é um profundo mistério proclamado por São Paulo em sua Carta aos Efésios (5,21-33). Por tudo isso, hoje é um dia de grande alegria para nós, pela certeza de que muitos irmãos e irmãs se fazem presentes na Igreja Triunfante, a Igreja Celeste, e de lá rogam por nós por estarem plenamente unidos à Cristo.


Nesse dia de "Todos os Santos" é justo refletir sobre a comunhão dos santos que se dá na unidade eclesiológica. Hoje transbordamos de alegria por tantos homens e mulheres que em suas vidas se conformaram tão perfeitamente ao Cristo que o transpareceram em seus gestos e atitudes, que mereceram adentrar ao Reino prometido por Cristo, na Jerusalém Celeste, a Igreja Exultante e Triunfante .
Isso também nos faz olhar para nossos outros irmãos e irmãs que em suas vidas lutaram para perseverar e também dar testemunho de Cristo, que tiveram seus deslizes, seus erros e pecados[1], mas também acertos e a conversão de vida. Estes, por sua vez, passam pela purificação de suas faltas, pelo crisol (fogo) purificador[2] (1 Cor 3,11-15). Deus os purifica assim como um ourives que tira todas as impurezas do ouro para que a jóia possa transparecer com todo a sua beleza. Estes nossos irmãos e irmãs que se purificam formam aquilo que chamamos de "Igreja Padecente" e passam por aquilo que se convencionou chamar de Purgatório, de onde niguém sairá até que se pague o último centavo (Mt 5,22-23).
Por outro lado, voltar nossos olhares para a Igreja Triunfante e para a Igreja Padecente leva-nos a um terceiro olhar, que recai sobre nós que aqui estamos e que formamos a "Igreja Militante" ou "Peregrina". Nós, membros da "Igreja Militante" podemos olhar para as virtudes dos Santos (as) (Igreja Trinfante) e para os limites de muitos de nossos irmãos (Igreja Padecente) e buscar seguir a via de Cristo, a via da perfeição, tendo os santos como modelos e setas que nos apontam essa via de Cristo e sabendo, porém, que muitos de nossos irmãos e irmãs necessitam de nossas orações (2 Mc 12,38-46) para que possam, purificados pelo crisol do purgatório (Lc 12,45-48), também merecer a graça de adentrar à "Igreja Triunfante". Nisso consiste a comunhão dos santos, todos nós unidos e auxiliando-nos uns aos outros nessa caminhada. Triste vida é a daqueles que rejeitam tal comunhão, que, por primeiro, trata-se de uma comunhão com o Cristo que nos une nele, com ele e por ele.
Em suma, como todo o corpo padece se um de seus membros sofre com a dor ou doença, também todo corpo partilha daquele alimento que é ingerido ou do remédio que vem para sanar a doença e a dor. Assim acontece com os santos, pois além dos méritos de Cristo que lhes uniu em si, lhes concedeu a salvação e as graças necessárias, também os méritos pessoais, ainda que sejam resposta à própria graça de Deus que nos capacita para toda boa obra, são levado em conta e agora estão à disposição para a comunhão de todo o corpo, ou seja, de toda a Igreja (Celeste, Padecente ou Militante).
Quando dizemos no Credo “creio na comunhão dos Santos”, professamos que nós da Igreja Militante podemos interceder pelos mortos (Igreja Padecente), intercerder por nossos outros irmãos e irmãs, ainda que sejam aqueles que nos fazem o mal, além de pedir a intercessão dos santos por nós[3] e também pelos mortos. Como vimos, os santos, nossos irmãos que gozam da glória de Deus (Igreja Triunfante/Celeste), podem interceder por nós e por aqueles que estão no Purgatório. Já nossos irmãos que padecem no purgatório são sempre necessitados e carecem de nossas orações, indulgências e sufrágios por suas almas para que pufiquem-se[4] e possam então gozar das delícias do Reino de Deus.
 


 

Quanto mais caminhamos em nossa fé e em nossa vida de Igreja, tanto mais crescemos em nossa compreensão sobre as Escrituras e na “nossa , que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria em Cristo, nosso Senhor”. Reconheçamos, então, que:
“A Igreja não é uma Instituição humana
mas, uma Instituição divina,
não é uma corporação,
mas o Corpo de Cristo.
 
Cristo é a cabeça da Igreja
e seus membros são os cristãos batizados
que vão conformando suas vidas à Cristo".
 
            Portanto, se existem santos isso deve ao fato de que uniram suas vidas ao "Santo dos Santos".  Trilhemos também nós esse caminho de santidade...




[1] Há pecados que não provocam uma morte ou pena eterna (inferno) e outros que sim. Vejamos o que diz São João em sua 1ª carta “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele ore e Deus dará a vida a este irmão, se, de fato, o pecado não conduz à morte. Existe pecado que conduz à morte, mas não é a respeito deste que digo que se ore. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não conduz à morte”. Embora não conduzam para a pena eterna, esses pecados não excluem as penas temporais, que podem ser sanadas já em vida, pela oração, penitência e caridade, mas se no fim da vida ainda restou ainda alguma pena, depois da morte há o purgatório.
[2] Bento XVI afirmou na sua catequese de quarta-feira, dia 12 de outubro de 2011, que: "O purgatório não é um elemento das entranhas da Terra, não é um fogo exterior, mas interno. É o fogo que purifica as almas no caminho da plena união com Deus". Trata-se, portanto, de uma experiência de encontro com Deus e caminho de conversão rumo à eternidade.
[3] Tenhamos bem claro que pedir a intercessão e o culto de veneração que prestamos aos santos (dulia) em nada se compara à adoração (latria) que prestamos a Deus. São ações diferentes e quem afirmar que um católico adora aos santos compreendeu mal nossa doutrina e nos acusa falsamente. Trata-se, portanto de um ataque infundado, sem razão, difamatório e calunioso. A Igreja Católica proíbe aos seus fieis qualquer tipo de adoração aos santos, pois esse tipo de culto deve ser dirigido apenas a Deus. Enquanto cristãos, os católicos creem na Santíssima Trindade, o Deus Uno e Trino (Pai, Filho e Espírito Santo), portanto, orações de adoração podem ser dirigidas às três pessoas da Santíssima Trindade.
[4] Os filhos de Levi cometeram um pecado e por isso perderam a vida, mas o profeta Malaquias afirma em seu livro que mesmo eles serão purificados: “Quem poderá suportar o dia de sua chegada? Quem poderá ficar de pé, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como o sabão dos lavadeiros. Ele virá para fundir e purificar a prata. Ele purificará os filhos de Levi, e os acrisolará como ouro e prata” (Ml 3,2-3).

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

ESCOLA ESTADUAL DOM BOSCO - 80 ANOS

PORQUE O NOME ESCOLA ESTADUAL “DOM BOSCO”?
 
Murah Rannier Peixoto Vaz (1)
OBS: Texto escrito em 2008.

No ano em que a Escola Estadual Dom Bosco completa seus 80 anos (2) de existência e serviços prestados à comunidade ipamerina, é bom rememorarmos sua história e, pesquisando, indagarmos até mesmo o por quê deste nome. Por que esta escola receberia o nome de Grupo Escolar Dom Bosco(3), e que apesar de diversas mas pequenas variações(4) é o nome que perdura até os dias atuais, receberia tal nome e o fixaria?

Seria simplismo neste caso, dizer que se deve apenas a devoção da diretora da escola àquela época(5) .

Para esclarecer esta pergunta faz-se necessário recorrermos a uma análise que se funda na chegada de Dom Emanuel Gomes(6) em Goiás.

Em 15 de abril de 1923, Dom Emanuel Gomes de Oliveira é sagrado Bispo e assume o Báculo da Diocese de Goiás. Religioso da Congregação dos Padres Salesianos, os chamados “Filhos de Dom Bosco”, desde o início de seu episcopado D. Emanuel começa a introduzir um grande estímulo às escolas em todo Estado, em especial a criação de Escolas Paroquiais. Em 1933, na data de 13 de agosto recebe a imposição do Pálio Arquiepiscopal, devido a elevação da Diocese de Goiás a Arquidiocese de Goiás. Sendo Salesiano, no tempo em que governou a Arquidiocese(7) , em suas andanças acabava também incentivando a devoção a Dom Bosco(8), canonizado apenas 11 anos após D. Emanuel ter tomado a direção da, então, Diocese de Goiás.

Além de seguir o carisma de sua ordem e os passos de Dom Bosco na área da Educação, e de expandir a devoção ao seu confrade, D. Emanuel também carregou consigo a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, criando uma paróquia com sua invocação em Goiânia, a nova capital de Goiás(9) .
 
Devido seu impulso à Educação em todo o Estado, D. Emanuel é conhecido como o “Bispo da Instrução”, tendo autorizado e estimulado seus padres a construírem diversas escolas, em todo o interior goiano, possibilitando fácil acesso a educação a milhares de pessoas do interior e capital(10) . Corroborando com este histórico é interessante o que diz-nos o Papa João Paulo II na saudação da sua homilia na Celebração da Palavra realizada em Goiânia no ano de 1991: “(...) Recordo, com admiração, a extraordinária obra educacional do grande filho de Dom Bosco, Dom Emanuel Gomes de Oliveira, cujas escolas abriram o caminho para a disseminação do ensino pelo interior do Estado. Esta obra foi coroada pela Universidade Católica de Goiás, a primeira instituição universitária do centro-oeste brasileiro, criada após sua morte pelo primeiro Arcebispo de Goiânia, Dom Fernando Gomes (...)(11)” .

Nota-se que a influência salesiana em Goiás, por parte de D. Emanuel foi tão forte, que chegou até mesmo a influenciar devocionalmente a 1ª Dama do Estado, Dª Gercina Borges Teixeira, esposa do Dr. Pedro Ludovico Teixeira(12) , Interventor Estadual de Goiás. Católica praticante, Dª Gercina tinha como diretor espiritual D. Emanuel. Nesta proximidade, Dª Gercina inclusive a pedido de D. Emanuel, sugeriu a escolha de Nossa Senhora Auxiliadora como Padroeira da Capital do Estado(13).

Entre várias outras, D. Emanuel esteve em Ipameri de 11 a 15/08/1938(14) , durante a festa de N. Sra d’Abadia, inauguração e sagração do Altar-mor(15) da nova Matriz(16) de Ipameri, hoje Igreja Catedral da Diocese. Com certeza em suas andanças por nossa cidade, também tratou de promover a memória do venerável São João Bosco.

Conclui-se então, que a devoção de Dª Almerinda Arantes(17), não era apenas uma particularidade pessoal, mas havia aí toda uma influência advinda de D. Emanuel Gomes de Oliveira, e que se espalhou pelo Estado nas décadas de 30, 40 e 50.
 
NOTAS DE RODAPÉ

(1)O autor é ex-aluno da Escola Estadual Dom Bosco e hoje é seminarista da Diocese de Ipameri, graduado em Filosofia e graduando do curso de  Teologia do Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz.


(2)Criada em 1928 e inaugurada em 1929, a primeira assumir sua direção é Dª Julia Guimarães.

(3)Originariamente criada com o nome Grupo Escolar Coronel Francisco Vaz, trocado posteriormente para Grupo Escolar de Ipameri e mais uma vez trocado para Grupo Escolar Dom Bosco.

(4)Escola Estadual Primeiro Grau “Dom Bosco”, Escola Integrada “Dom Bosco” e o atual nome, Escola Estadual “Dom Bosco”.

(5)Dª Almerinda Arantes.

(6)A passagem de Dom Emanuel Gomes de Oliveira pelo bispado de Goiás é marcada por notáveis realizações nos campos eclesiástico e social. Foi ele o grande construtor de igrejas e escolas.


(7)Exerceu seu pastoreio até sua morte em 12/05/1955.

(8)Dom Bosco era um sacerdote dedicado, e uma de suas áreas de evangelização foi a Educação, a qual entregou-se com esmero. Como educador, desenvolveu a educação infantil e juvenil e o ensino profissional. São João Bosco gozava de grande prestígio e fama por ter morrido em ares de santidade em 1888. Foi canonizado e elevado aos altares pelo Papa Pio XI em 1º de abril de 1934,

(9)Em 1957, esta paróquia teria sua Matriz Paroquial sagrada como sede da Catedral da nova Arquidiocese de Goiânia.


(10)Segundo o Deputado Federal Domingos Neto Velasco em discurso proferido na Câmara Federal em sessão realizada em 15 de abril de 1948, naquele ano já somavam um total de 25 escolas paroquiais, 15 ginásios oficializados, 11 escolas normais, 2 escolas de aprendizado agrícola, uma escola de enfermeiras, e ainda formou o patrimônio da Escola de Farmácia e Odontologia de Goiânia.


(11)João Paulo II. Homilia proferida na Celebração da Palavra na Esplanada do Estádio «Serra Dourada» de Goiânia. Viagem Apostólica ao Brasil, terça-Feira, 15 De outubro de 1991.
 
12)Político brasileiro, nasceu na cidade de Goiás-GO em 1891. Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1915). Um dos líderes da revolução de 1930 em Goiás, interventor federal no Estado (1930-1933) e governador de 1935 a 1937, foi responsável direto pela mudança da capital de Goiás, da cidade de Goiás para Goiânia. Interventor federal pela segunda vez (1937-1945 e governador eleito (1951-1954), além de ser senador eleito por duas vezes (1955-1962 e 1962-1970), teve seu mandato cassado pelo Ato Institucional Nº5. e suspensos seus direitos políticos por dez anos, em 1969.

(13)Nossa Senhora Auxiliadora foi escolhida padroeira de Goiânia em 1935, ano em que se instalou, em 20 de novembro, o município da nova Capital de Goiás. Padroeira dos salesianos, Dom Emanuel Gomes de Oliveira também rendia a ela sua devoção.

(14)Quatro anos após a elevação de Dom Bosco aos altares. Na mesma ocasião lançou a pedra fundamental do Educandário N. Sra. Aparecida, no dia 15/08/38.

(15)Primeiro Altar sagrado nas Igrejas da Arquidiocese de Goiás.
(16)A inauguração se deu no o dia 14 de Agosto de 1938.

(17)Diretora da escola na gestão em que houve a mudança do nome da escola de Grupo Escolar de Ipameri para Grupo Escolar “Dom Bosco”.
 
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

VEIGA, João. Ipameri Histórico. 1967.

WISE OFM, Frei Alexandre. No coração do Brasil. Ensaio da História dos Quarenta Anos (1943-1984) da Custódia do Santíssimo Nome de Jesus em Goiás. 1989, Ed. Vozes. Petrópolis-RJ.


REZENDE, Íris. Pedro Ludovico - A saga da construção de Goiânia no coração do Brasil. Secretaria Especial de Editorações e Publicações. Senado Federal, 2001, Brasília-DF.


FONSECA E SILVA, Con. J. Trindade da. RAMOS JUBÉ, José M. SOUZA LOBO, José F. de. (Orgs.) Livreto dos 25 de Bispado de D. Emanuel: Vinte e cinco anos de benefícios ao Estado de Goiaz. A Dom Emanuel primeiro Arcebispo de Goiaz, a voz agradecida de suas obras. 1948.


PAULO II, Papa João. Homilia Do Papa João Paulo II Na Celebração Da Palavra Na Esplanada Do Estádio «Serra Dourada» de Goiânia. Viagem Apostólica Ao Brasil. Terça-Feira, 15 De Outubro De 1991.


Livro dos relatórios mensais, ocorrências e comunicações a Cúria Diocesana. Registro datilografado pertencente ao acervo da Paróquia Divino Espírito Santo de Ipameri.


Paróquia Divino Espírito Santo. Jornal comemorativo do Sesquincentenário da Paróquia de Ipameri, 31 de julho de 1995.


Ipameri em notícias, Jornal de Ipameri, dezembro de 2002.


Revista da Arquidiocese de Goiânia, Volumes de 1964 a 1966.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

1.1 - A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA



Esse texto faz parte da obra inédita, em vias de ser publicada, denominada "As terras do Divino Espírito Santo - História de fé e luta de um povo", Volume I, de minha autoria. O texto seguinte faz parte de seu 1º capítulo.

A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA
Murah Rannier Peixoto Vaz
 
Simbolicamente, pode-se afirmar que a Igreja é como uma flor. Desejada pelo Pai, plantada pelo Filho, nutrida pelo Espírito Santo e cultivada pelos apóstolos. Essa flor é formada por diversas pétalas, unidas em um mesmo pendão, estabelecidas sob um mesmo caule, alicerçadas nas mesmas raízes. Cada pétala que se afasta das demais, leva consigo o seu brilho e parte da beleza da flor, que acaba ferida e desfigurada, mas continua viva, pois suas raízes e seu caule permanecem lhe fornecendo aquilo que é próprio da semente plantada. O mesmo não se pode dizer das pétalas separadas. Muitas não sobrevivem, as demais ficam privadas daquilo que lhe é próprio e acabam se alicerçando sob outras raízes. Cada um que se afasta não destrói a Igreja, mas deixa vazio o lugar que devia preencher nas paredes desse edifício espiritual que é a Igreja e, o qual, ninguém ocupará se o próprio não o ocupar.

Qual compreensão de si mesma tem a Igreja? De modo sintético, é isso o que esse texto abordará. A Igreja possui notas, ou seja, características próprias que lhe garantem ser a Igreja de Cristo. Essas quatro notas foram definidas, no ano de 381, no “Credo” Niceno-Constantinopolitano, estabelecido nos Concílios de Constantinopla e Nicéia, porém, já eram correntes. Encontradas anteriormente no “Credo” de Santo Epifânio e no de São Cirilo de Jerusalém (MYSTERIUM SALUTIS, 1975, p. 5).

De tal modo, a Igreja é Una por sua fonte, o Deus Uno e Trino, por vontade expressa de seu fundador, Jesus Cristo (Cf. Jo 17,21), que nos une com Deus, por meio do Espírito Santo de amor, alma da Igreja, que realiza a comunhão dos fiéis. Conclui-se que, ainda que formada pelos diversos membros, a Igreja forma um só corpo em harmonia, cuja cabeça é o Cristo. Essa unidade se dá internamente (em três aspectos: fé, sacramentos e comunhão hierárquica) e externamente (geograficamente e antropologicamente, ou seja, a totalidade dos homens, santos e pecadores, a caminho), já nos primórdios da Igreja ela aparece com ênfase e destaque: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma” (Cf. At 4, 32); A Igreja é Santa porque instituída por Jesus Cristo, aquele que é três vezes santo. N’Ele a Igreja é enxertada, tornando-se os membros de Seu corpo, e por Ele é constantemente nutrida pela Graça divina que a santifica e a faz sempre nova. Como nova vinha que substituiu a antiga[1] (Cf. Is 5,1-7; Mt 21,33-46), “seu crescimento não é fácil, ela é maltratada por repentinas fases de seca, de geada e de dolorosas podas, mas não podem faltar os frutos nos sarmentos inseridos na videira fundamental”[2]. Consequentemente, a Igreja vai além de uma mera instituição humana e realiza-se por obra do Espírito Santo. Quanto à essa santidade diz o Catecismo da Igreja Católica:

A Igreja é santa, mesmo tendo pecadores em seu seio, pois não possui outra vida senão a da graça: é vivendo de sua vida que seus membros se santificam; é subtraindo-se à vida dela que caem nos pecados e nas desordens que impedem a irradiação da santidade dela. É por isso que ela sofre e faz penitência por essas faltas, das quais tem o poder de curar seus filhos, pelo sangue de Cristo e pelo poder do Espírito Santo (CEC 827).

A Igreja é Católica porque possui um chamado universal, no sentido de integralidade e de totalidade (CEC 830). Ela é aberta a todos os povos, culturas e nações (Cf. At 2, 4), e, por isso, é chamada de Sacramento Universal da Salvação. Todo aquele que se salva se salva por meio dela[3]. Por isso, ela é chamada a se estender até os confins da terra; a “Igreja é Apostólica por ser fundada sobre os Apóstolos...” (CEC 857). A Igreja, cuja edificação permanece sob o alicerce dos apóstolos presididos por Pedro, continua a conservar e transmitir, com a orientação do Espírito Santo, o ensinamento de Cristo e de seus Apóstolos. Estes sucessivamente, por concessão do Romano Pontífice (Cf. At 1,15-26), transmitem o mandato de Cristo a novos Apóstolos (Colégio dos Bispos) e são presididos por Pedro, na pessoa do atual Papa[4], o Bispo de Roma, que possui uma sucessão direta do Apóstolo Pedro. Desse modo, a Igreja, “continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos até a vinda de Cristo, graças aos que a eles sucedem na missão pastoral” (CEC 857).

A fundação da Igreja é de direito divino, pois foi fundada por Jesus Cristo, Deus que se fez homem. Assim, “a Igreja é humana porque Jesus é humano, ela é divina porque Jesus é divino” (SUGAI, 1996, p. 88). Portanto, Deus se fez homem para estar mais próximo dos homens. Ao assumir totalmente a condição humana restaurou a humanidade corrompida pelo pecado original e, mais do que isso, elevou-a a uma condição superior a anterior à queda. Dentro de seu plano de salvação, Jesus fundou a Igreja e a fez humana e divina. Desse modo, a hierarquia apostólica se fundamenta na vontade e no direito divino de Cristo. No início de seu ministério Jesus chamou doze para viverem em comunhão consigo e para estarem mais próximos de si, instituindo o Colégio Apostólico (Cf. Mc 3, 13-19; Lc 6, 13-16). De modo diverso, foram chamados outros setenta e dois discípulos (Cf. Lc 10, 1). Dentre o grupo dos doze, Cristo escolheu Simão, a quem chamou de Pedro (Cf. Mt 16, 18-19) e o pôs à frente de seu Colégio Apostólico. Sobre a mudança de um nome na Bíblia, Bourke faz a seguinte afirmação: “No pensamento semítico, o nome designava o que a pessoa era, e o recebimento de um novo nome indicava alguma mudança na pessoa que o recebia[5]” (2011, p. 694).

Pedro recebeu de Cristo o ofício de ser o pastor de um só povo e um só rebanho, apascentando e confirmando os irmãos na fé (Cf. Jo 21, 15 ss; Lc 22, 32)[6]. Cristo é o Pastor, a rocha, pedra angular rejeitada, mas transmite a Pedro a autoridade que o Pai lhe concedeu. A sucessão apostólica, por meio da contínua transmissão do múnus petrino de confirmar os irmãos na fé e a autoridade de ligar e desligar dada por Cristo (Cf. Mt 16,18-20), garante que a Igreja subsista através dos tempos, conforme a vontade de seu divino fundador, que prometeu permanecer conosco até o fim dos tempos (Cf. Mt 28,20). A missão dos Apóstolos é a missão de Cristo. Não por mérito pessoal, mas, “pela participação na graça de Cristo, os Apóstolos prolongam na história, até a consumação dos tempos, a mesma missão de salvação de Jesus em favor dos homens” (PDV, 2005, p. 39). Isso ocorre como continuidade do “corpo místico de Cristo” de onde recebemos todos os seus méritos:

Não existe salvação sem a Igreja. Todos os homens podem ser salvos pela Igreja, ou na Igreja. Através da Igreja quando, desconhecendo a Igreja, vivem de acordo com a retidão de suas consciências; na Igreja quando, conhecendo a Igreja, buscam as graças de salvação deixadas na Igreja por Jesus Cristo (SUGAI, 1996, p. 88).

 

Desde os primórdios do cristianismo, a Igreja de Roma presidia as demais na caridade. Em nenhum outro lugar do mundo foram mortos tantos cristãos. Além de todos os outros cristãos, foi ali que Pedro e Paulo, as colunas da Igreja, levaram a termo a sua fé, sendo martirizados. Em Roma está o túmulo de Pedro, que foi crucificado como seu divino mestre. Em Roma foi plantada a pedra sob a qual Cristo fundou sua Igreja. Nessa cidade foi eleito Lino, o primeiro sucessor de Pedro. Por esses motivos, permanece em Roma a Cátedra de Pedro.

Resumindo o que é a Igreja, podemos dizer como Bruno Forte: “A Igreja provém da Trindade, é estruturada à imagem da Trindade e ruma para o acabamento Trinitário da história” (2005, p. 9). Ou seja, “vinda do alto (oriens ex alto), plasmada pelo alto  e rumo ao alto (“Regnum Dei praesens in mistério”, LG 3), a Igreja não se reduz às coordenadas da história, do visível e do disponível” (FORTE, 2005, p. 9). Finalizando, podemos dizer que a Igreja surgiu do mistério divino, caminha como mistério na Igreja, Sacramento da comunhão dos homens, com seu divino fundador, para alcançar seu destino: a consumação escatológica.

Por tudo isso, acreditar na Igreja Católica significa crer no projeto de salvação para a humanidade, estabelecido pela própria Trindade; acreditar na Igreja significa confiar em Jesus Cristo e em sua promessa de que enviaria o Espírito Santo que a manteria na Verdade e regeria essa instituição, fundada por Cristo e jamais desamparada (Cf. Jo 16, 12-13), para levá-la ao encontro do Pai.




[1] A vinha é símbolo do povo de Israel (Jer 2, 21), Deus promete uma nova vinha (Is 27, 2-6).
[2] Missal Dominal, São Paulo: Paulus, 1995, p. 415.
[3] Mesmo aqueles que não estejam em plena comunhão com a mesma, mas vivam a unidade pelo batismo e pela Palavra, pois o Espírito Santo sopra como lhe apraz, ele não se limita às fronteiras da Igreja, todavia, a Igreja foi o meio, isto é, o instrumento concreto e seguro que o Senhor nos deixou para nossa salvação.
[4] Bento XVI é o 266º Papa e o 265º sucessor de Pedro.
[5] O mesmo aconteceu com outros personagens bíblicos bem conhecidos, entre eles: Abrão – Abraão e Oséias – Josué
[6] O Bispo de Roma sucede a Pedro nominalmente e os Bispos, por ele legitimamente aprovados, sucedem aos Apóstolos colegialmente.