sábado, 20 de novembro de 2010

HONESTIDADE NÃO DEPENDE DE POSIÇÃO SOCIAL

SEM-TETO DEVOLVE US$ 3,3 MIL ACHADOS EM MOCHILA NOS EUA

'Nem todo mundo que vive nas ruas é um criminoso', disse Dave Talley.
Estudante dono da mochila disse que juntava dinheiro para comprar carro.



Um homem que vive nas ruas de Tempe, no estado americano do Arizona, encontrou uma mochila numa estação de trem contendo US$ 3,3 mil (cerca de R$ 5,6 mil) e resolveu devolvê-la ao dono.
Dave Talley teve um encontro nesta sexta-feira (19) com o dono do dinheiro, um estudante identificado por um serviço de achados e perdidos onde o sem-teto devolveu a mochila.

O morador de rua, que disse ter problemas com drogas e ter perdido a casa onde vivia há sete anos, admitiu que pensou em ficar com o dinheiro, mas se arrependeu e resolveu tentar devolvê-lo ao dono.
“Nem todo mundo que vive nas ruas é criminoso. Pensei que não era meu dinheiro”, disse.

O estudante Brian Belanger disse que já tinha perdido a esperança de reaver a mochila, cinco dias após ter perdido, quando recebeu a notícias de que havia sido devolvida, e com o dinheiro.

“Essa é a coisa mais impressionante que eu já vivi. É uma lição que nos faz manter a fé nas pessoas, não importa em que circunstâncias estejam”, disse Belanger.

O estudante, que disse que economizou o dinheiro para comprar um carro, agora planeja trabalhar como voluntário numa organização de ajuda aos sem-teto.


Link: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/11/sem-teto-devolve-us-33-mil-achados-em-mochila-nos-eua.html

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O QUE É QUE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NÃO FAZ, HEIM?!?



Por reza, Chicharito é ameaçado até de morte pela torcida do Rangers

Técnico escocês Alex Ferguson pede para mexicano do Manchester United não repetir gesto no gramado antes do duelo da próxima quarta, em Glasgow

O técnico do Manchester United, Alex Ferguson, pediu ao atacante Javier Chicharito Hernández não rezar em campo antes da partida contra o Rangers, na próxima quarta-feira, em Glasgow, pela quinta rodada do Grupo C da Liga dos Campeões. Escocês, o treinador teme pela saúde do mexicano, que tem sido ameaçado até de morte.

As ameaças foram motivadas por conta da mistura entre futebol, religião e política no país. Chicharito costuma erguer as mãos enquanto está ajoelhado no gramado para pedir sorte, mas o ato parece não ter muitos fãs da torcida do Rangers. Precavidos, os dirigentes escoceses também pediram ao mexicano para não repetir o gesto.

Na Escócia, Glasgow Rangers e Celtic representam o protestantismo e o catolicismo, respectivamente, além de apoiarem causas diferentes (os azuis defendem a união política com a Inglaterra; os verdes, no entanto, pregam a independência). O clássico, reconhecido como um dos maiores do mundo, atrai quase sempre violência.

Por GLOBOESPORTE.COM Manchester, Inglaterra Link: http://globoesporte.globo.com/futebol/liga-dos-campeoes/noticia/2010/11/por-reza-chicharito-e-ameacado-ate-de-morte-pela-torcida-do-rangers.html

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TRINDADE: CONVITE À COMUNHÃO


Andrei Rublev (c.1370-1430), ícone da Trindade


Murah Rannier Peixoto Vaz
O filme “Andrei Rublev”, do diretor Andrei Tarkovsky, gravado no ano de 1966, é ambientado na Rússia do início do séc. XV. Destacam-se entre os personagens três monges: Danila, Cirilo e Andrei, que no filme é biografado de forma romanceada e até mesmo poética. Em torno deste último é que o filme se desenvolverá e em torno de quem as cenas e todos os diálogos giram. Andrei vive em constante conflito interno devido a uma não aceitação do juízo final como uma cena de medo, mas entende-a como uma cena de amor, de acolhida.
Assim como Andrei se questiona, o filme quer levar seus espectadores a se questionarem sobre: Qual imagem de Deus eu tenho? Qual é a minha imagem de juízo final? A partir dessas questões surgem outras: Que imagem de Deus e do juízo final eu apresento aos outros? Que tipo de fé vamos colocar na Igreja? Em que consiste o julgamento?
Ao questionarmos sobre que imagem de Deus estamos oferecendo, convém refletirmos sobre que imagem de Deus nós cremos. Se uma imagem de um Deus amoroso, um Deus Pai misericordioso e acolhedor, ou se cremos e apresentamos um Deus contabilista, que provoca medo, que anota os pecados para nos cobrar, um Deus vingativo, que pune e castiga.
Alguns dos diálogos do filme são de imensa profundidade ao analisar tais questões. O monge iconógrafo, Andrei, em um dado momento do filme, faz a seguinte afirmação: “Só tem medo quem não ama”. Esta será sua grande dificuldade, porque não consegue pintar o quadro do juízo final aos moldes como era pintado por outros pintores e iconógrafos.
Um dos ajudantes de Andrei quando era torturado pelos tártaros disse: “Deus fará suas tripas arderem no fogo da Geena”. Será mesmo que Deus faria algo assim? Pouco depois os tártaros despejam um líquido fervente em sua boca e assim o filme mostra que uma atitude tal como essa é possível aos homens, mas não pode ser atribuída a Deus.
O filme aborda reflexões sobre o mal, o sofrimento e a dor. De onde elas viriam, poderiam vir de Deus? De Deus não pode vir o mal, porque este, justamente, só existe em razão da ausência de bem ou do afastamento do bem. Do mesmo modo como as trevas e a escuridão só existem em decorrência da ausência de luz. Conseqüentemente, o mal só pode vir do próprio homem ao fazer o mau uso de sua liberdade, dádiva concedida por Deus.
“Massacram (...), violam (...), saqueiam (...)”, segundo Andrei, estes são os modos como os homens agem. Prosseguindo em seu diálogo, Andrei conta a Feafan um sonho que tivera e relata a fala de um tártaro, que assim se refere aos homens: “Mesmo sem nós, dareis cabo uns dos outros, como lobos”. Nessa fala percebe-se uma visão pessimista e negativa do homem, percebe-se também que o mal não surge apenas de uma nação contra a outra, um povo contra o outro, mas parte do próprio homem em suas relações. Como visto no momento em que, por ciúmes, Cirilo abandona o mosteiro e se volta contra os monges. Logo após, ele descarrega todo o seu ódio no pobre cachorro que correu para acompanhá-lo, ou como, por exemplo, na rivalidade entre os dois príncipes, que são irmãos. Aqui, possivelmente, evoca-se a imagem de Caim e Abel.
Porém, diferentemente do que diz o tártaro, há no homem certa ambigüidade, como nessa fala de Andrei: “(...) Alguma coisa que não te sai ou estás cansado, e eis que encontras um olhar humano e é como se tivesse comungado, ficado mais leve. (...)”. De fato, cre-se que também a salvação passa pelo próprio homem e é Cristo quem apresenta ao homem a verdadeira humanidade, faz-se, ele mesmo, o Verbo divino incriado, carne, ou seja, torna-se um igual a nós, menos no pecado, e arma sua tenda em nosso meio, caminhando conosco nos convida a irmos com ele ao Pai, pela ação do Espírito.
Voltando à questão da imagem de Deus e do juízo, Cirilo ao travar diálogo com Feafan sobre as obras de Andrei faz a seguinte observação: “Falta-lhe qualquer coisa, falta-lhe o medo, a fé.” Assinala-se aqui a incompreensão da visão amorosa de Deus que tem Andrei. Em outro momento, o próprio Andrei ao travar uma conversa com Feafan, lhe diz: “Se apenas se apelar para o mal, nunca haverá felicidade perante Deus.” Danila insistindo com Andrei para que este pinte logo o quadro do juízo final, lhe diz: “É só pintar. (...) Estamos a perder um tempo ótimo! Quente e seco! Há muito teríamos acabado a cúpula e os pilares. Com cores fortes e expressivas! Com pecadores a arder no inferno... de maneira a provocar arrepios. Imaginei cá um diabo! Assim, a fumegar pelo nariz.” Andrei o interpela: “O problema não está no fumo (fumaça)! Vai contra mim. Dá-me nojo! Não quero assustar o povo. Compreende-me, Danila!” Crendo que o visível nos faz contemplar o invisível e que ele torna-se uma janela por onde se entrevê o absoluto, Andrei não acredita em uma tal imagem de Deus e do juízo, como as propostas por Danila, e prefere não pintar a ser incoerente consigo mesmo.
No entanto, em um momento de reflexão, Andrei se levanta e diz: “É uma festa”. Esta é a conclusão à qual chega o pintor, esse é o juízo! Anos mais tarde, Andrei pinta o ícone da Trindade, tomando a releitura que os padres da Igreja fizeram dos três anjos sob o carvalho de Mambré, como relatado no Antigo Testamento. Andrei pinta-os com uma idêntica fisionomia, sentados a mesa, com um dos lados desocupado, justamente aquele que está diante da pessoa que observa o ícone, como que convidando-o para participar do banquete da Trindade. Sob a mesa está o cálice e o convite é para a vivência da comunhão, para a vivência de um profundo amor. Essa é a concepção de juízo para Andrei, um Deus que convida à comunhão, que não pode obrigar seus filhos a ela, por tê-los dado a liberdade, o inferno será ficar de fora dessa festa e o que ocorre se dá pela livre rejeição do convite divino. Assim compreende-se também que imagem de Deus Andrei quis apresentar em seu ícone.
Nas primeiras cenas do filme vê-se um homem que constrói um balão e alça vôo, sobe alto, de lá vê pessoas, animais e campos, porém ele cai. Creio que essa seja uma maneira simbólica de tratar a vontade de transcendência do homem, vontade de ir além de si mesmo, de atingir o infinito. Que, todavia, ao tirar Deus de cena, ou seja, querer transcender por si mesmo, deixando Deus de lado e negando-o, acaba por cair (pecado), desabando como um castelo de cartas de baralho, porque é um ser limitado e só chega a uma verdadeira transcendência a partir do convite divino e por meio d’Ele. Conclui-se, que o desejo de transcedência humano só se torna efetivo quando o homem consegue compreender a grandeza de um Deus que lhe convida a sentar-se e comer com Ele, elevando-o a condição de igualdade, em uma vida de comunhão fraterna. O convite é d’Ele, a resposta é sua!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO DO ANO LITÚRGICO.



Murah Rannier Peixoto Vaz
1 - A Páscoa semanal: princípio de toda a liturgia cristã.
O ano litúrgico foi se desenvolvendo no decorrer da história da Igreja, não de maneira orgânica e sistemática, mas de forma gradual e lentamente. A princípio a páscoa semanal constituía o único centro da pregação, da celebração e da vida cristã. De tal modo, o “culto na Igreja nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa”, pois ela é um evento que resume e faz valer todo o conjunto da vida e obra salvífica de Cristo para a nossa salvação.
Conseqüentemente, com a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, o Shabat (sábado), que para os judeus era dia de santificação, repouso e oração, se desloca para o primeiro dia da semana, que também passa a ser chamado de primeiro dia da nova-criação e oitavo dia da criação e é denominado como domingo (dies domini), o dia do Senhor. E este se torna a espinha dorsal de todo o ano litúrgico.

Portanto, o domingo como dia da celebração do mistério Páscal, torna-se também:
1 - Dia da Páscoa: dia de memória e presença do Cristo, morto-ressucitado, de sua ascensão, da efusão do Espírito, e da esperança em sua vinda gloriosa.
2 - Dia da assembléia: dia de reunião dos fiéis. “Onde dois ou mais estiverem em meu nome eu aí estarei.”
3 - Dia da Eucaristia: é dia de ouvir a Palavra, entrar em comunhão com o Cristo, com seu ápice no sacramento, essa comunhão e a Palavra que ressoa em nossos ouvidos e no coração nos impulsiona ao serviço. Sendo dia da Eucaristia, é também dia de santificação dos homens e da glorificação de Deus.
4 - Dia da missão e da caridade: é dia de assumir a missão de Cristo: “Tive frio e me agasalhastes...”; “O Espírito do Senhor está sobre mim, e ele me ungiu e me enviou...”. Assim, a Eucaristia, celebrada no domingo, é um ponto de chegada, mas também de partida, pois não se esgota dentro das paredes do templo, mas impele o cristão para o testemunho com a vida e o serviço de caridade.
5 - Dia da alegria: é dia da festa das festas, pois Cristo venceu a morte e deu-nos vida por sua morte.
2 - A Páscoa Anual: Núcleo do Ano litúrgico.

Para uma maior exaltação do dia da Páscoa, já nos primeiros tempos foi se entendendo a necessidade de uma grande celebração da Páscoa Anual e, daí por diante, passo a passo, foi se dando início a um movimento litúrgico que foi inserindo e distribuindo no decorrer do ano civil as festas do Senhor, dos santos, dos mártires, da Mãe de Deus, insere-se o ciclo natalino etc.
Assim, da celebração anual da Páscoa surge um grande dia de vigília, da passagem de Cristo da morte para a ressurreição. Em torno desse núcleo, que é a Páscoa, aos poucos foi se inserindo e se formando o Tríduo Pascal, que celebra a morte (sexta-feira santa), o sepultamento (sábado santo) e a ressurreição (domingo de aleluia com a grande vigília). Posteriormente, ainda foi inserida, como um prolongamento da festa Pascal, os cinqüenta dias do tempo pascal até o dia de Pentecostes. E com o passar dos séculos novas formas de liturgia e celebração vão sendo inseridas no ano litúrgico. Ali pelo século III, inseriu-se o batismo na noite da vigília pascal; no século IV nasceu a semana santa e foi inserida, na manhã da quinta-feira santa, uma reconciliação dos penitentes; já no século VII, foi inserida a missa do Crisma e, posteriormente, o período que antecede a celebração penitencial, foi cahamado de Quaresma, como período de preparação e penitência para a participação da festa anual de Páscoa.

Ainda no século IV, nasceu o ciclo natalino, de maneira acidental a princípio, como forma de cristianizar o dia considerado mais longo do ano, o 25 de dezembro, onde era celebrada a festa pagã do Deus sol. Nesse dia, a comunidade cristã começou a celebrar a festa do nascimento de Cristo, a qual no ocidente se chamou Natal e no oriente, em data diferente, mas com o mesmo objetivo, chamou-se Epifania, a manifestação da divindade de Cristo na carne. Ao redor dessa festa, foi se formando o tempo do advento, com seu duplo sentido, manifestação gloriosa de Cristo (2ª vinda - Parusia) encarnação (1ª vinda de Cristo).
Como vimos, o ano litúrgico não se formou a partir de um plano concebido, de maneira sistematizada, mas na verdade foi se desenvolvendo e expandindo progressivamente.
São dois os principais fatores que fazem do ano litúrgico uma forma importante de vivenciar o mistério salvífico: Pedagógico e teológico. Como razão pedagógica é uma forma de explicitar e apresentar os diversos momentos e aspectos do insondável e incomensurável mistério e como razão teológica torna-se uma forma de compreender a precisa conotação e seu valor próprio no plano de Deus, ou seja, os gestos e modos como Deus se manifestou na carne de seu filho e o qual a comunidade primitiva entendeu como cumprimento de toda a história de Israel. Assim fica impossível entender o Antigo Testamento sem as luzes do Novo Testamento e vice-versa.