sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ENTREVISTA SOBRE BIOÉTICA - PARTE I

Esta entrevista foi cedida em meados do segundo semestre de 2009, na cidade de Campo Alegre as alunas do Colégio APROV de Catalão, Thávila kaline Miranda da silva e Carollina José da Silva.
ENTREVISTA:
Apresentação:
O entrevistado se chama Murah Rannier Peixoto Vaz, tem 25 anos, é Bacharel em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz, seminarista da Diocese de Ipameri e atualmente faz estágio na Paróquia Nossa Senhora do Amparo em Campo Alegre de Goiás.
1 – A clonagem humana para fins do avanço da ciência é uma polêmica, principalmente quando se trata de questões religiosas. Qual a sua visão?


O pensamento que gerou a idéia de clonagem humana, de certa forma, advém do período da segunda grande guerra quando cientistas, entre eles Mengele, a mando de Hitler fizeram várias experiências todas elas contrárias à Bioética, seres humanos eram usados como cobaias e todo tipo de testes eram realizados. O avanço da ciência não é justificável a custa de tudo e de todos. Ou seja, precisamos ter limites e é para refletir sobre esses limites que se criou a Bioética, uma ciência considerada nova, com formulação terminológica criada em 1971, mas com fundamentos alicerçados na antiga Grécia, séculos antes de Cristo.
Pensadores como Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, foram os que por primeiro contribuíram com a investigação ética. A Bioética atual não difere de suas raízes, ela aborda problemas que atingem a cada pessoa individualmente e a humanidade como um todo.
Mas porque abordo isso, haja vista que falamos de clonagem? Pois antes de falarmos de clonagem devemos refletir a fundo no pensamento que a originou.


Hitler com sua defesa da raça Ariana, a qual acreditava ser superior as demais, influenciado pela filosofia nietzscheniana do “Super-homem”, pensava que o mundo devia se submeter a Nação Ariana e dar lugar a ela. Ele era um entusiasmado adepto da teoria da higiene racial, doutrina "científica" que pregava a eliminação dos genes não arianos do povo alemão. Felizmente, Hitler não atingiu sua intenção, mas, em termos, seu pensamento perdura até hoje.


O quando começa a vida é uma questão bem controversa, até mesmo no meio científico isso gera polêmica.
Biologicamente percebemos que a vida começa em sua concepção, no ato do fecundar o óvulo. Seja por via natural ou artificial em laboratórios. A defesa da dignidade do embrião não tem nada a ver com religião, na verdade é puramente no plano técnico, científico e biológico que nos posicionamos para essa defesa, mesmo que, todavia, a visão cristã também beba nessas fontes.


Eu já fui um embrião, cada um dos que tiverem contato com essa entrevista também já foi. Pergunto, então, e se tivéssemos sido manipulados para algum outro fim? Não tínhamos direito a vida? A diferença entre um óvulo fecundado e você, é o TEMPO e a NUTRIÇÃO.


Alguns argumentam que este seria um modo capaz de salvar milhares de vidas e de fato é. Muitos já deram suas vidas livremente para salvar a vida de outra pessoa, pois tinham liberdade para tomar suas próprias decisões. Mas imaginem se baixassem um decreto que obrigasse que um certo número de brasileiros adultos dessem a vida para salvar a vida de outros brasileiros adultos, quem concordaria?
Nesse aspecto concordo com Carlos Serrano que afirma que:
“Ninguém pode dispor da vida de um embrião, ainda que para um fim benéfico... Porque os fins não justificam todos os meios. Quando um meio é intrinsecamente mau e, para mim, matar um embrião é intrinsecamente mau, não podemos utilizá-lo, mesmo que seja para obter o melhor benefício deste mundo. A não ser que o embrião pudesse dar o seu consentimento.”
De tal forma quem protege o embrião está protegendo a toda a sociedade. Se defendemos que podemos manipular um embrião com menos de 14 dias pelo fato de seu tecido nervoso não ter se formado totalmente é o mesmo que defendermos a morte de um débil mental por seu cérebro não funcionar corretamente. Um cientista não pode ter o direito de escolher quem vai viver usando uma vida para salvar outra. Isso abriria um precedente perigoso para a vida


Não podemos ser utilitaristas, usar embriões ou pessoas fere a vida, pois não somos coisas e tanto o embrião quanto um homem adulto são seres humanos ainda que em estágios diferentes. Da mesma forma como a semente é uma árvore em potência o embrião assim também o é. Dê ao embrião as condições favoráveis para seu desenvolvimento e ele será outro humano adulto.


Assim sendo, tanto o uso do embrião de forma que o mate ou o seu descarte pode ser considerado um aborto, pois a raiz etnológica da palavra aborto significa, entre outros, privação do nascimento, frustrar, malograr e descartar, ou seja, matar um embrião para fins de tratamento seria frustrar ou malograr uma vida. “Se com a fecundação se inicia um processo autogovernado pelo próprio embrião, está mais do que certo que essa formação vital possui a qualidade de ser humano”. (DINIZ, 2001)

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ENTREVISTA SOBRE BIOÉTICA - PARTE II (FINAL)

3 – O uso de células-tronco é um tratamento promissor que salvaria milhares de vidas futuramente. Qual sua opinião sobre esse tipo de tratamento?
Como abordei na questão anterior com a citação de Carlos Serrano, os fins não justificam os meios. A vida é um princípio fundamental da Constituição brasileira como se pode constatar em seu art. 5º assim como na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas cujo Artigo III prevê que “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
Cabe lembrar também que o Código Civil brasileiro em seu art. 2º: “põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”. Conceituação semelhante é dada no Pacto de São José (tratado internacional de direitos humanos no qual o Brasil é signatário), ao determinar em seu artigo 4º: “Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito está protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção”.
Realmente o uso de células-tronco é um tratamento promissor, mas usar células embrionárias significa sacrificar ou lesar o embrião e ignorar que ele já é detentor de um código genético único, original, e irrepetível, sendo que pode se dispor do uso de células adultas, presentes em cordões umbilicais, placentas e na medula óssea, todavia estas adultas possuem capacidade limitada de diferenciação e essa era a grande afirmação para o uso das células embrionárias. Entretanto, em 2007, através da descoberta de uma nova técnica: a reprogramação consiste em utilizar células humanas adultas da pele para criar células-tronco embrionárias "induzidas", ou seja, elas “voltam no tempo” se transformando novamente em células-tronco embrionárias, e posteriormente podem se diferenciar em outros tecidos do corpo.
Uma pesquisa coordenada pelo neurocientista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Stevens Rehen, e pelo biomédico Martin Bonamino, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a partir de células adultas produziu-se pela primeira vez células pluripotentes no Brasil, ou seja, células capazes de se transformarem em vários tipos de tecidos. Assim o Brasil torna-se o quinto país do mundo a produzir células pluripotentes induzidas.
Sou totalmente a favor do uso das células tronco adultas, pois estas não ferem o embrião, não tiram o seu direito a inviolabilidade da vida de sua fase inicial à fase final e podem promover o tratamento e cura de mais de setenta doenças como o mal de Parkinson, Alzheimer, doenças cardíacas, coronárias e até mesmo na recuperação de pessoas paraplégicas. Mas com todos esses avanços científicos e possibilidades abertas é no mínimo incoerente continuar a insistir com o uso de células embrionárias.
4 - Alguns casais fazem tratamentos para ter filhos. Uma das opções é a fertilização in vitro, por não ser um processo natural, qual seria a posição da Igreja?
Com toda certeza é uma questão delicada a fertilização in vitro, pois rompe com o processo natural e biológico da natureza e esse, apesar de ser um problema não é o único. Outra grande questão é o que fazer com o excedente de embriões? Podem ser utilizados em experiências científicas? A quem pertencem? Podem ser descartados, destruídos? Podem ser doados a outro casal?
É delicado dizer algo assim a quem sonha ter seus filhos biológicos, mas penso que casais que não tem condições de ter filhos por vias biológicas naturais ou através de métodos terapêuticos éticos poderiam adotar crianças ao invés de se fecharem em seu egoísmo. De tal forma não teríamos a problemática do que fazer com os embriões excedentes que não podem ser descartados ou destruídos por se tratarem de humanos em potência. Além de tudo, através do ato de adoção dá-se a uma criança a possibilidade de crescer em um lar, e os pais adotivos colocam-se a serviço da vida. No entanto, muitos por uma vontade de ter seu próprio filho, usam se dos meios possíveis para alcançar esse sonho, esquecendo-se de que os embriões restantes do experimento são vidas iniciadas e filhos em potência, assim como aqueles que vierem a nascer.
A conclusão é que a Igreja posiciona-se de forma contrária a fertilização como pode ser observado na afirmação de Dom Sérgio da Rocha:
“a posição do Magistério da Igreja é contrária à fecundação artificial, seja heteróloga ou homóloga, embora procurando compreender os anseios do casal em dificuldades que busca a geração de um filho, e valorizando o serviço prestado pelas ciências na busca de soluções para casais com problemas nesse campo. ( ROCHA, D. Sérgio da)”.
Somos vocacionados (chamados) a vida, ela é um dom de Deus do qual não podemos prescindir, nós somos apenas administradores da vida confiada a nós. Portanto, a escolhamos e a promovamos como cuidadores da vida em todos os seus estágios.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001.
ORG: LEONE, Salvino; PRIVITERA, Salvatore; DA CUNHA, Jorge Teixeira. Dicionário de Bioética. Aparecida: Santuário, 2001.
ROCHA, D. Sérgio da, Questões atuais de teologia moral. Encontro de Formação de Presbíteros/ Sub-Regional de Ribeirão Preto – 04 à 06/09/2007
OLIVEIRA GUIMARÃES, João Vitor Mello de O uso científico de células-tronco embrionárias e o direito à vida.


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

CARTA ENVIADA AO PADRE LINO NO ANO DE 2007





Carta escrita ao Padre Lino Dal'la Pozza, na noite em comemorou-se seus 77 anos de vida:


Goiânia, 24 de Setembro de 2007
Caríssimo Revmo Padre Lino.
Estamos em festa contigo e, mais do que isto, estamos muito felizes de ver a expressão de contentamento e de alegria no teu rosto.
Mas também, o senhor merece...
Ainda mais quando se atinge o dobro da perfeição... 77 anos, se o 7 já é o símbolo da perfeição, imagine então este 7 dobrado, um ao lado do outro. Ou melhor que isso, imagine 11 X 7, que multiplicado dá o total de anos de tua vida. Uma vida de entrega e de doação; vida de uma consagração à vontade de Deus, sendo sal e luz entre os povos.
Certamente teu tio se alegra junto do PAI, por saber que em sua família uma ilustre personalidade, chamada Lino Dalla Pozza, é quem na verdade realizaria seu sonho de ser missionário nas terras da América Latina. In Brasile...
Êh Brasil abençoado! Teve a graça de recebê-lo, e de tê-lo anunciando a “Boa Nova” entre nosso povo, fazendo a libertação daqueles que estão presos nas coisas materiais, devolvendo a vista, àqueles que são os piores cegos, que são os que não querem ver, não querem enxergar a realidade que está diante deles. Brasil que teve a graça de tê-lo aqui, lutando pela promoção do Reino, por um mundo onde paz, amor e justiça se abraçam.

Ah Pe. Lino... tanta coisa poderia ser dita...
Mas como sei de tua humildade, serei também simples em minhas palavras, quero acrescentar apenas uma prece:
Obrigado Senhor, pelo ventre que gerou teu filho Lino Dalla Pozza, pelos braços que trabalharam para criá-lo, sustentando-o e alimentando-o, para que um dia pudesse estar entre nós.
Obrigado Senhor, pelo ninho que foi a família do Pe. Lino. Família que não o reteve para si egoisticamente, mas que o compartilhou com uma multidão de pessoas.
Obrigado Senhor, pelo empenho, o trabalho e a dedicação deste teu zeloso filho. Dai a ele a alegria dos justos, e tende nele a Vossa afeição.
Amém.
Murah Rannier Peixoto Vaz

Em nome de todos os seminaristas da Diocese de Ipameri.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

A PAZ, O HOMEM E O MUNDO QUE NOS CERCA.




A humanidade anseia pela paz mais do que qualquer outra coisa. Por mais incrível que possa parecer, dado ao enorme número de guerras e conflitos que ocorreram ao longo de toda a história humana, nenhum sentimento supera a vontade de estar perto das pessoas que são importantes para nós e ter a garantia de que ninguém aparecerá para praticar maldades.

Mesmo tão ansiada e querida, a paz é algo raro de se obter. E, por ser um item raro, tem um preço alto para muitos. A frase famosa que diz: “Se anseia pela paz; prepara-te para a guerra”. É uma dura realidade que nossa história teima em esfregar constantemente em nossos rostos.

Mesmo assim, pergunte ao mais feroz combatente se ele não anseia pela paz? Pergunte as mães dos soldados que vão para o front de batalha; se elas não anseiam pela paz? Pergunte as esposas e filhos dos milhões que estão em combate, agora mesmo enquanto você lê esse artigo, se não trocariam tudo o que tem para estar ao lado de seus entes queridos?

A resposta uníssona que você receberia, até do guerreiro mais fanático é um sonoro “sim”.

Mas, por que então a guerra e a morte são algo tão presentes e comuns para nós?

Como seres imperfeitos e cheios de orgulhos imbecis, desejos desnecessários e noções equivocadas sobre o mundo a nossa volta; nós sempre encontraremos um motivo “verdadeiro” para odiar nosso semelhante. Seja porque ele é da religião “X” ou da “Y”; seja porque ele mora em “tal” ou “tal” país; Seja porque a cor de sua pele é diferente da nossa ou mesmo porque, simplesmente, “algo” não nos inspira confiança nele.

A paz para nós ainda é uma utopia distante. Mesmo aqui, em nosso país, que não tem qualquer tradição belicista e é tolerante com os mais diferentes tipos humanos; ainda encontramos elementos que se deixam levar pela idiotice do ódio racial, religioso ou de qualquer outra natureza.

Como o medo pelo desconhecido é algo muito antigo em nossa formação como seres viventes, esses ódios irracionais ainda estarão conosco por muitos anos ainda. Impedindo que a raça humana perceba que ela é a Única Raça que Existe; que todas as religiões mentem (afinal de contas, quem pode imaginar que exista mármore no inferno, mil virgens esperando um suicida idiota ou que só os cristãos “serão salvos”).

Quando o homem amadurecer o suficiente para entender que todos temos uma mesma fonte e destino e que fronteiras são apenas riscos nos mapas sem qualquer importância prática o mundo terá paz.

Ao compreender isso, não haverá no seio da humanidade divisões de religiões, países ou raças. Seremos apenas um povo peregrino caminhando lado a lado rumo a uma nova casa.

Pense nisso.

OBS: Este artigo faz parte da Blogagem Coletiva proposta pelo Quiosque Azul.

domingo, 3 de outubro de 2010

Apelo do porta-voz da Santa Sé contra pena de morte


Estamos próximos do 10 de Outubro, um dia de protesto mundial e batalha universal contra a pena de morte. Também chamada de pena capital é uma das formas de punições extremas e que fere e viola a legislação dos direitos humanos promulgada pela ONU. Desde casos de crimes graves como homídios ou outros crimes hediondos até, como ocorre em alguns países, aos casos mais banais. Creio que devemos continuar a nos postar ao lado daqueles que defendem a vida, pois o direito à vida é inalienável e nenhuma autoridade pode decidir matar um ser humano.

Abaixo um texto do porta-voz do vaticano que se manifestou contra a pena de morte pedindo mobilização para que não haja mais casos:

"Sou contrário ao recurso à pena de morte": o Pe. Federico Lombardi, SJ, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, escolheu a primeira pessoa para manifestar a oposição da Igreja Católica ao atual recurso à pena capital.

"Não a quero nem na China, nem no Irã, nem nos Estados Unidos, nem na Índia, nem na Indonésia, nem na Arábia Saudita, nem em nenhum lugar do mundo", afirmou, adotando um tom inusitado no editorial do semanário Octava Dies, produzido pelo Centro Televisivo Vaticano.

"Não a quero por lapidação nem por fuzilamento, nem por decapitação, nem mediante a forca, nem na cadeira elétrica, nem por injeção letal. Não a quero dolorosa nem sem dor. Não a quero em público nem em privado", continuou.



"Não a quero nem para as mulheres, nem para os homens; não para os que possuem deficiência nem para os sadios. Não a quero para os civis nem para os militares; não a quero em paz nem em guerra. Não a quero para quem pode ser inocente, mas tampouco quero para os réus confessos. Não a quero para os homossexuais. Não a quero para as adúlteras. Não a quero para ninguém", esclareceu.

"Não a quero nem sequer para os assassinos, para os mafiosos, para os traidores ou para os tiranos. Não a quero por vingança, nem para libertar-nos de prisioneiros incômodos ou custosos, e nem sequer por suposta misericórdia."

"Porque busco uma justiça maior - acrescentou. E é bom andar por esse caminho, para afirmar, cada vez mais, a favor de todos, a dignidade da pessoa e da vida humana, da qual não somos nós quem dispomos."

Como diz o Catecismo da Igreja Católica, citando João Paulo II, hoje, para os Estados, os casos em que é absolutamente necessário suprimir o réu "são praticamente inexistentes".

Por isso, conclui o porta-voz vaticano: "Façamos que sejam inexistentes. É melhor".

CIDADE DO VATICANO, domingo, 3 de outubro de 2010 (retirado do site ZENIT.org)