domingo, 27 de fevereiro de 2011

ANALOGIA DO MITO DA CAVERNA NA PÓS-MODERNIDADE

ANALOGIA DO MITO DA CAVERNA NA PÓS-MODERNIDADE

Murah Rannier Peixoto Vaz

Introdução

O texto que aqui vem ser apresentado é uma crítica a atual sociedade, de uma forma sátira e um humor ácido. Abordando no decorrer de seu desenvolvimento a alienação presente na mídia em geral, mas aqui, destacando rádio, tv e internet.

Trata também do comodismo e da aceitação do que é imposto por esta mídia, mostrando por outro lado o Ser por excelência, apresentado por Sócrates, e o seu transcender a caverna, colocado no texto como uma analogia à mídia, e a necessidade de também todos atingirem a transcendência desta caverna, que acorrenta, aliena e aprisiona. A analogia à caverna e o transcender à ela são cernes de todo o texto.

OH CAVERNA TÃO MALDITA E AO MESMO TÃO QUERIDA, AFASTAR-NOS DE TI É RAZÃO DE NOSSAS VIDAS...

Hoje, no tempo em que vivemos a chamada era da Pós-modernidade, encontramos grandes avanços tecnológicos e culturais, ao mesmo tempo, porém, existe um grande avanço da máquina “alienizante”. Máquina esta que encaminha pessoas para temporadas nos “Spars de lavagem cerebral”.

Já não é mais uma só a caverna, como era na época de Sócrates (Platão), hoje existem dezenas, quiçá centenas de cavernas, para todos os gostos e vontades de “alienizar-se” que o freguês possa ter.

Para início de conversa, podemos citar a “caverna digital” que através de uma falsa pretensão de aproximar as pessoas, as afasta cada vez mais. Fazendo que cada um viva em seu “mundinho” próprio; um mundo virtual onde já não se encontra mais as pessoas cara a cara, olho no olho, pessoalmente, fazendo com que haja contato e interação. O mais próximo disto será visualizar a pessoa estática, digitando, ou mesmo acenando por uma webcam, e apertando continuamente as teclas de um teclado a fim de digitar algo que será enviado através de um click do mouse.

O virtualismo passa-nos notícias da China, Cuba, E.U.A , imediatamente, após ocorrerem, é um mundo muito organizado e de grande inteligência. Sabe como ninguém impor e fazer com que aceitemos livremente o que põe diante de nós. Com isso nossos olhos e ouvidos assimilam tudo, é como se fizéssemos um download literal de roupas, calçados e músicas com que nos bombardeiam.

Mas o que a mídia não faz, não é?!?!?

A história desta caverna é antiga e vem evoluindo no atravessar dos anos; Tudo começou com seu Bisavô, o Rádio, e com sua Avó, a Tv Preto e Branco, chegando a sua mãe TV a Cores, hoje uma coroa que ainda faz muito sucesso e detém grande difusão, sendo conhecida por todos e quando se busca e se pensa uma forma de alienação, ainda se recorre a ela em primeiro lugar, pois suas fórmulas “alienizantes” ainda são as preferidas de uma grande massa coletiva da sociedade.

Seu filho Computador vem sendo cada vez mais procurado. Sendo já, uma opção quase á altura e acesso como a mãe. Hoje pensa-se em uma conjugação do trabalho, mãe e filho em conjunto, trabalhando a todo vapor em suas árduas funções de aumentar a alienação, massificando, coletivizando e “coisificando” o povo.


Outra caverna que podemos citar é a própria sociedade. Nascemos em um mundo globalizado, que transforma o homem em instrumento de ganho e obtenção de lucro. Já não se pensa na humanidade do ser humano, mas no que se possa extrair dele.

Num meio capitalista onde valemos o que produzimos, se ocorre que já não produzimos ou produzimos menos, tornamos-nos descartáveis e inúteis indo então nos aglutinar aos bolsões dos que vivem á margem da dita “sociedade”. Deve-se isto a falta de outras oportunidades (realidades), mas quem disse que esta sociedade quer apresentar-nos outras oportunidades (realidades)? Na verdade, o que se quer é manter a máscara de perfeição e pureza nesta podridão existente. Mas de que se lança mão para tal feito?

Mas é claro; seus aliados (os quais ainda a pouco tecíamos comentários). Estes aliados vão buscar dia a dia defender e sustentar esta realidade, fazendo uma espécie de inculturação e mostrando-nos realidades que não são a real e existente realidade. É claro que como por lampejos de luz (flashs) eles ainda deixam transparecer a realidade em que vivemos. Nestes lampejos, vemos os contrastes e a efemeridade deste “mascaramento”.

Podem ser citadas diversas outras cavernas, todas com práticas comuns e semelhantes umas as outras. Pegam a realidade e apresentam-nos suas sombras enganadoras e falsas, buscando entre si uma unidade, para melhor sustentar e manter suas máscaras.

Mas será que passaremos por este mundo como gado?

Sócrates morre na Grécia antiga por contestar a realidade na sociedade existente na época. Ele vai a julgamento acusado de corromper a juventude ateniense e também por impiedade para com os deuses, acusações incabíveis e manipuladas perante o júri, que o condena ao exílio. A fim de não contradizer tudo o que já havia dito antes, aceitando tal pena (e fazendo isto, de certa forma assumir um erro não praticado); prefere continuar em Atenas e ser condenado à morte. Isto porque não quer fugir da lei e para não ir contra a ética, aceita a pena de morte, e bebe sua taça de vinho envenenada por sicuta, tornando-se o Ser ético por excelência.

O que Platão quer apresentar em sua obra é que Sócrates é aquele homem que transcendeu a caverna e encontrou-se com a verdade, o lógos, a luz que dissipa as trevas e que possibilita abandonas as ilusões das sombras e enxergar o real, mesmo que o encontro com a realidade muitas vezes doa.

É incrível como muitos seres humanos tendam ao regresso à caverna. Caso fizessem este retorno para libertar os que lá se encontram, isso justificaria este regresso, mas na verdade esta tendência é a de voltar às trevas para ali permanecer, colocando novamente em si os grilhões, acorrentando pernas, braços e pescoços por livre e espontânea vontade mesmo após ter visto e contemplado a verdade e enxergado toda a realidade, preferem viver na comodidade das trevas, envoltos, impregnados e protegidos por um denso nevoeiro de sombras.

Acredito (ou quero acreditar) que me encontre no caminho árduo de adaptação à luz, neste caminhar em sua direção, onde pela força de seus raios ainda se vê turvamente, mas já se contempla os contornos e as formas existentes. Espero poder chegar a ver a totalidade e ao término desta contemplação, fazer meu retorno à caverna (ou, as cavernas) para desacorrentar aqueles que estão em suas profundezas, trazendo-os para fora juntamente com aqueles que estão em sua entrada oscilando entre trevas e luz, vendo lampejos de realidade, mas por temor ou outros fatores (compreensíveis é claro após tanto tempo condicionados), não concluem a trajetória de ir além e transpor este portal para encontrar-se com aquilo que nunca fora imaginado antes. Queiramos seguir as pegadas de Sócrates que nada temeu em relação ao desconhecido e em seus últimos momentos exclamou: “Será a morte um mal ou será a morte um bem?” Para ele que caminhou em direção á verdade, a iluminação, sendo ético e realista como foi, creio que terá sido um grandioso bem, tendo se despido de todas as aparências e máscaras, enxergando as coisas como tais, pôde então contemplar a beleza suprema!

Confiança não nos falta para ir adiante nesta jornada, e você?

Venha, vamos adiante...

Conclusão

Como é possível perceber, há uma necessidade de ir além das aparências e do que é tido como a realidade. Para aqueles apenas que olham superficialmente e sem uma necessária crítica ao que lhes é apresentado, apenas absorvendo o que lhes é oferecido em seu dia a dia, muitas coisas são tidas, por vezes, até como verdades de fé.

Sabe-se que nos encontramos em uma realidade Capitalista e que tentará manter-se de pé; que melhor meio de fazer do povo um instrumento de manopla, marionetes de suas ideologias, do que através do constante incutir idéias e vontades na mentalidade, desta coletividade (grande massa da população mundial) pela da mídia.

Que caminhos tomar para transcender tal caverna que nos mantém em meio as trevas?

Não há uma receita pronta, necessário a cada um é fazer seu próprio itinerário de esforço e caminhar em direção ao encontro com a luz que se chama “verdade”, que é quem nos concede a liberdade.