segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pensamentos sobre Madri...

Dom Henrique Soares da Costa‏


Hoje, a imprensa da Espanha, da Itália e de outros países comenta, admirada, a Jornada Mundial da Juventude. Fala de um Papa de 84 anos que atraiu dois milhões de jovens; fala da vitória da Igreja sobre o governo esquerdista e anticlerical da Espanha de Zapatero, fala do Papa que sabe falar aos jovens, fala da força da Igreja que renasce na Espanha...

Meu querido Leitor, é a mesmíssima imprensa que já afirmou repetidamente que Ratzinger não tem carisma algum, que a Igreja já não tem credibilidade nenhuma, que o escândalo dos padres pedófilos colocou por terra o período triunfalista de João Paulo II, que a Igreja entrou numa decadência sem fim e sem cura... A mesma imprensa que tinha certeza de que, sem João Paulo II, os jovens não mais se reuniriam em tamanha multidão...

Que lições devemos tirar de tudo isto? Aquelas que tenho recordado constantemente neste Blog: os cristãos não devem nunca interpretar as coisas de Deus a partir dos critérios do mundo, particularmente aqueles da imprensa! Nossa visão tem que ser a partir do Alto, a partir da cruz e da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo!

Pense um pouco: (1) Os jovens não foram a Madri por causa de Bento XVI – como no passado não foram por causa de João Paulo II: os jovens foram por causa de Cristo, foram para encontrar Jesus! Um Papa nunca é, nunca pode ser uma atração: não dança, não canta, não requebra, não é sarado, não faz pirueta e não aparece sob efeitos especiais! E se fizer isso, não é o Papa, é a Xuxa! Os jovens foram, vão e irão sempre a esses encontros pela sede que consome seus corações: por causa de Cristo, vida da nossa vida e saciedade da nossa esperança! (2) Um Papa não tem que ser “carismático” no sentido mundano. Todo Papa é carismático, porque, uma vez eleito, recebeu o carisma, isto é a cháris, a graça própria do ministério petrino. Pode ser o comunicativo João Paulo II, o simpático João Paulo I, o bonachão João XXIII, o hierático e angelical Pio XII, o feioso Bento XV, o valente Pio XI, o melancólico Paulo VI ou o tímido Bento XVI. O verdadeiro católico não ama um Papa, não ama esse Papa, ama o Papa, escuta o Papa, obedece ao Papa – exatamente porque é o Papa, seja ele quem for! Para o católico todo Papa é Pedro, e basta!
(3) Essa multidão reunida não é, não deve ser e não pode ser uma prova de força da Igreja! Nossa força está unicamente na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo – é a mesma força da Semana Santa do ano passado, quando a imprensa acusava a Santa Igreja de Cristo de ser uma rede internacional de pedófilos e se diziam misérias contra o Santo Padre! Nossa força é Cristo, nossa vida é Cristo, nossa certeza é Cristo, nossa alegria e esperança é Cristo! (4) É verdade que Zapatero, adversário ferrenho do cristianismo, está passando – como passaram outros e passarão tantos outros. Ficará a Igreja, a Mãe católica amabilíssima, porque Cristo assim o quis e assim o prometeu! Mas, não devemos pensar aqueles jovens como um triunfo da Igreja sobre ninguém. O único triunfo que devemos buscar é o triunfo sobre o pecado nosso e do mundo inteiro! Se Zapatero é um inimigo externo da Igreja, também nós a prejudicamos com nossos pecados e egoísmos, com nossa tibieza e falta de amor... Os piores inimigos da Igreja estão dentro dela! (5) Quanto ao renascimento da Igreja na Espanha ou em qualquer parte do mundo, ele não pode ser medido por números, por multidões ou eventos... Somente o Senhor da Igreja conhece o número dos seus, somente ele sabe do vigor e da fraqueza de sua Santa Esposa, nossa Mãe católica! No entanto, se aquela multidão de jovens na casa dos vinte anos estava lá, significa que nas paróquias, nos grupos, nos movimentos, nas novas comunidades, nas congregações há uma Igreja viva, crente, orante, disposta a testemunhar o Senhor! Lembra do fermento na massa, do grão de mostarda, do tesouro escondido? Pois é, Jesus não erra nunca; Jesus sabe o que diz e sustenta o que fala! (6) Quanto aos elogios a Bento XVI, que sabe falar aos jovens, ele fala de Cristo com simplicidade, clareza e a convicção de quem experimentou o Senhor ao longo de toda a vida. Isto basta! Mais impressionante que aquela multidão escutando o Papa de 84 anos, é vê-la, junto com o ancião pontífice, silenciosa, contida, piedosamente reverente, ante um pedacinho de pão que esses católicos bobos afirmam ser o próprio Jesus imolado e ressuscitado, realmente presente neste mundo! Basta ver isso para perceber a força da fé, a atuação da graça e a esperança do mundo. (7) Para terminar, repito, mais uma vez: se fossem somente vinte jovens a comparecer a Madri, ainda assim Cristo estaria ali, vivo, atuante, potente, matando a sede de todo aquele que dele se aproxime.

Lembre dessas coisas, meu Leitor, quando daqui a pouco, por algum motivo, nalguma dificuldade, a imprensa novamente decretar que a Igreja está no fim, que o cristianismo passou, que a religião é coisa do passado... Então: firmes na fé, com os olhos fixos em Cristo!


A GRAÇA DA FORMAÇÃO PERMANENTE


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Amedeo Cencine

Murah Rannier Peixoto Vaz
De 22 a 26 de agosto foi promovida em Brasília pelo Seminário N. Sra. de Fátima a “Semana de Formação Humana e Espiritual”. As turmas do 1º e 2º ano de teologia do Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz estiveram presentes nos dias 25 e 26 e participaram das conferências ministradas pelo renomado Padre italiano Amedeo Cencine, autor de diversas obras na área da formação humana e espiritual.
Os temas abordados por ele estavam interligados entre si e foram os seguintes: “Rumo a uma cultura da formação permanente”, “Mentalidade” e “Sensibilidade”. Sua abordagem apresenta uma visão interessante e, de certa forma, faz uma quebra de paradigmas quanto ao que correntemente é tido como formação permanente. Segundo Cencine, a formação permanente se dá no ordinário do dia a dia. Cada momento é cheio da graça formadora e torna-se preciso estar aberto a “aprender a aprender” a cada instante, momento ou experiência vivenciada, boas ou ruins, agradáveis ou desagradáveis. A essa atitude ele denomina “docibilitas”.
Logicamente a formação permanente deve compreender momentos de atualização, como faz o clero, os leigos (as) e religiosos (as). Deve até mesmo conduzir a eles, todavia tais momentos são extraordinários da formação permanente, pois o ordinário, como visto, se faz todos os dias.
Cencine ainda afirma que o agente ordinário da formação permanente é o próprio indivíduo e que o agente extraordinário é a Igreja. Para ele, ou a vida é uma formação permanente ou ela é uma frustração permanente e que se tornará uma deformação, pois nada que deixa de progredir permanece no mesmo lugar, mas na verdade regride. Portanto, para criar essa cultura da formação permanente torna-se necessário criar uma mentalidade, uma sensibilidade e uma prática pedagógica.
Na mentalidade o sistema intelectivo propicia o desenvolvimento da cultura da formação permanente, já na sensibilidade passa-se de algo objetivo para algo subjetivo (pessoal) que é enriquecido pela própria criatividade do indivíduo. No entanto, é preciso que isto passe da idéia teórica e do querer para a práxis teológica, real e universal, vivida existencialmente e com uma metodologia que se dá habitualmente.
Outro ponto pertinente é a distinção feita pelo conferencista entre perseverança e fidelidade. Perseverança seria algo próprio da vontade do indivíduo, comprometido com a própria palavra dada, mas, segundo Cencine, às vezes fica presa no orgulho pessoal, enquanto que a fidelidade nasce de uma relação e da fidelidade a outra pessoa: Jesus Cristo. A fidelidade nasce do encontro do Eu com o Tu de Cristo e, por isso, precisa do amor. O amor traz motivações sempre novas, fundamentadas na relação que, diante do outro, desestabilizam o Eu, que é posto em crise. Crise entendida como “docibilitas”, abertura a “aprender a aprender”.
Esse desestabilizar tira o Eu de seu lugar habitual e o reconduz a seu objetivo primordial: configurar-se a Cristo. A “docibilitas” abre o indivíduo a se deixar tocar pela realidade e, de tal modo, ele se entende como responsável pela integração pessoal, linear, educativa e formativa, encontrada na relação com a alteridade.
Finalizando, Cencine em todos os momentos pontuou que o objetivo e finalidade da formação permanente é o configurar-se a Cristo, modelo dramático e necessário, que implica cruz e morte. Para isso, torna-se obrigatório rememorar todos os momentos passados, ao invés de esquecê-los, e dar sentido a todos esses momentos, pois é preciso passar da cruz, frustrante e sem sentido, para a ressurreição, cheia de significado e repleta das sementes da graça da formação permanente.