quarta-feira, 5 de junho de 2013

VIVA E DEIXE VIVER



Murah Rannier Peixoto Vaz

O Sr. Rodrigo César Dias, em seu artigo “Contradições do pró-vida”, publicado no dia 31/05, partindo da premissa falaciosa de que se boa parte da sociedade repudia e o Estado penaliza mais o assassinato de um adulto do que o de um embrião ou de um feto, logo, torna-se válido e aprovado o aborto e, assim, os pró-vida são fanfarrões e irresponsáveis por serem contra essa atitude. Bem... pensando desse modo, então a corrupção também não é um crime, haja vista que muitos brasileiros votam em políticos corruptos e outros tantos se também tivessem oportunidade fariam o mesmo que eles para beneficiar-se, pois são adeptos do “jeitinho” brasileiro e, quando são levados à justiça quase sempre o processo “acaba em pizza” e voltam a se eleger. Como se vê, a partir dessa falsa premissa, este Sr. desenvolve uma grande miscelânea de temas usando de retórica, sofismas e da inferiorização dos pró-vida como se fossem fundamentalistas religiosos e sem conhecimento, a fim de tentar convencer os leitores de que são contraditórios e de que não são dignos de crédito. No entanto, o próprio “escritor” entra em constantes contradições e faz uma exposição de como não se deve falar daquilo que não se conhece.

Tirar uma vida humana é sempre um ato abominável, no entanto, quando se tira toda e qualquer possibilidade de uma vida humana se desenvolver, ou seja, de ser, de fazer parte da própria sociedade, e de desenvolver suas potencialidades, tiram-se todos os direitos daquele ser humano em sua fase inicial de formação. Pois, entre os direitos humanos, o primeiro, essencial, inerente e inalienável, é o direito à vida, como versa a Declaração dos Direitos Humanos aprovada pela ONU (1948): “o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. Muitos se esquecem de que os direitos humanos antecedem a qualquer Constituição e mesmo a legislação dos países. Contudo, não será novidade que existam contradições entre as Constituições e legislações dos países e os direitos humanos.

Tais contradições advêm do surgimento de uma cultura excludente, utilitarista, egoísta e individualista, presente em uma sociedade que apoia amplamente o hedonismo, com um governo que tem pretensões de colocar máquinas de distribuir camisinhas em escolas fundamentais, fazendo da genitalidade uma área de lazer, e não se preocupando em ajudar seu povo a compreender a necessidade de ser responsável por seus atos. Por conseguinte, tudo se torna convenção e passa por negociações, inclusive o primeiro e fundamental direito: a inviolabilidade da vida, direito previsto na Carta Magna desse País, em seu art. 5º, e que também o Código Civil o protege, conforme o art. 2º: “a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”. É estranho que se ponha em debate o direito à vida, mas muito mais estranho seria que o único direito que o nascituro não tivesse fosse o próprio direito à vida.

Uma das formas de ataque ao movimento pró-vida, como sempre se verifica, é querer criar entorno dele uma conotação simplória, como se fosse a atitude de um grupo religioso ou de grupos, sem qualquer fundamento científico ou respaldo técnico e teórico. O autor do artigo apresenta o movimento pró-vida como se fosse embasado em uma espécie de fundamentalismo sem razão, fechado em princípios religiosos e sem qualquer princípio científico. Na verdade, o movimento pró-vida é formado por especialistas de diversas áreas como, por exemplo, especialistas em genética, medicina, bioética, filosofia, teologia, psicologia, sexualidade humana e ciências jurídicas. Além, é claro, do apoio de diversas entidades e organizações de todos os segmentos da sociedade, inclusive as religiosas, não uma, mas de todas aquelas que, imbuídas do espírito de cidadania e da defesa da vida, se unem em prol de um objetivo comum. Dizer que o pró-vida é um irresponsável e fanfarrão além de ser uma falácia é uma tremenda calúnia e grave difamação, para quem tem um compromisso ético com vida e a dignidade humana e quando se tem por embasamento a compreensão de que liberdade implica responsabilidade.

Como defensores da vida, estamos sim de acordo que as leis continuem a proteger os direitos do nascituro e, para isso, que se tornem mais claras e objetivas, a fim de que sejam aplicadas sobre aqueles que transgridem o direito à vida, ceifando-a. No entanto, isso, apesar de fundamental, não é a única luta do pró-vida. O outro pilar desse movimento é a conscientização. Não estamos imersos e impregnados da máxima de Focault: “Vigiar e punir”. Seria tarde demais, pois a vida já teria sido ceifada às ocultas. Pretendemos evitar chegar a isso, passando pela conscientização da sociedade e de cada pessoa, mas sabemos que também é imprescindível a lei, a norma. Entretanto, atualmente, mesmo a lei abre brechas para a matança de inocentes. Por isso mesmo, a conscientização sempre será um fator importante e imprescindível, pois mesmo que algo não seja crime, isto é, que seja legal aos olhos da lei, não significa que seja de fato ético ou se enquadre nos padrões da bioética, ou mesmo nos da moral.

Por fim, medicina, ciência e técnica deveriam estar a serviço da vida e isso é um pensamento que vem desde a Grécia antiga. Embora, nem sempre isso ocorra. Hipócrates, médico grego, elaborou um juramento para os médicos em que se dizia: “Eu juro (...) a ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva”. Embora esse juramento, ainda que atualizado, faça parte da base de quase todos os juramentos dos médicos em diversos países, devido ao crescimento demográfico, há hoje uma conspiração contra a vida. Com os lobbys, criam-se constantes políticas antinatalistas, para as quais não faltam incentivos estatais e estrangeiros. Dessa maneira, muitas vezes e em diversos casos, a mídia tem apoiado e imposto temáticas pró-aborto e, sem que nossa sociedade perceba, tem se promovido um condicionamento das consciências e lançado um “eclipse” sobre o valor da vida e da dignidade humana. Não é possível que nos calemos diante dessa realidade torpe. O aborto é uma “solução” falsa e ilusória. Nessa falácia encontramos uma das maiores contradições, se o aborto é o problema como resolvê-lo apoiando-o e simplesmente descriminalizando-o? Portanto, viva e deixe viver.