sábado, 4 de dezembro de 2010

Grande exemplo...


Do alto da Penha, pároco não deixou de rezar nem mesmo nos piores momentos do conflito

Isolado dentro da igreja, padre Serafim rezava enquanto bandidos armados circulavam do lado de fora trocando tiros com a polícia. Ele espera, agora, dias de paz na região.

O olhar sereno do padre Serafim Fernandes, há 14 anos vivendo e observando a cidade do alto da Igreja da Penha, na Zona Norte do Rio, não dá ideia da tensão no conjunto de favelas que ele viu crescer aos pés do santuário. Durante os conflitos ocorridos na última semana, que livraram a região do jugo do tráfico de drogas, o padre chegou a ficar isolado dentro da igreja, enquanto traficantes observavam a movimentação de militares do lado de fora.

– Eu não abandonei o Santuário. Não só pelo Santuário, mas também em solidariedade a todas essas milhares de pessoas que estavam sofrendo. Muitas tentaram me tirar daqui. Chegou a vir carro para me levar, mas disse que não abandonaria o Santuário, nem as pessoas que estavam sofrendo – afirma o pároco.

Enquanto concedia a entrevista com o cinturão de favelas às suas costas, o religioso explicou que uma tarde toda não seria suficiente para relatar o terror que passou.

– Tivemos momentos muito difíceis. Já vi muita coisa aqui, pessoas morrerem na minha frente, jovens, mães desesperadas. Na quarta-feira passada quando a televisão flagrou os meninos (traficantes) lá em cima, na grade, eu estava dentro da igreja, impotente, inclusive sem poder me comunicar – diz Fernandes.

As rezas pela paz não são de ocasião. Foram diárias durante anos. Ele explica que isso chegou a causar certa irritação entre os fiéis.

– Os desabafos dos fiéis eram inerentes a essa situação de sofrimento. Inclusive, em todos esses anos que eu estou aqui no Santuário da Penha, na missas e celebrações, eu rezo pela paz. E algumas pessoas começaram a questionar com um certo ceticismo dizendo: 'O senhor está rezando pela paz, mas essa paz não acontece' – disse.

Padre Serafim diz que viveu momentos muitos difíceis, perdeu noites de sono, passou dias de muita angústia, mas nunca desanimou nem perdeu sua fé. Ele diz encarar sua atuação no Santuário da Penha e nas comunidades vizinhas com espírito de missão.

– Eu estaria faltando com a verdade se não admitisse que houve um esvaziamento muito grande, por mais que a a gente se esforçasse para atrair os visitantes, com melhorias na medida das nossas possibilidades. Mas o ambiente não favorecia, o clima não favorecia. Então, notamos sim esse esvaziamento – diz o padre sobre outra consequência do clima de terror imposto pelos traficantes foi o afastamento progressivo do número de fiéis das missas.

Hoje, passados todos os tormentos, dificuldades e sofrimentos, o padre diz estar encarando o momento com muita expectativa e esperança.

– Eu acredito que para quem tem fé, onde há crise, há esperança. Então, eu tenho fé e desejo que as coisas vão tomar um rumo diferente. Eu estou acreditando na boa fé, na boa intenção dos nossos governantes, do prefeito, do governador Sérgio Cabral, que se preocupou comigo, quis saber como eu estava, eu agradeço muito essa preocupação. E no que diz respeito a projetos e iniciativas para a região estou muito esperançoso que eles vão cumprir o que estão anunciando.

E para marcar o momento de virada no astral, a prefeitura do Rio anunciou que este será o réveillon da paz na Penha e as festas no Santuário e seu entorno ganharão um reforço extra. A expectativa é que, sem medo, cerca de 200 mil pessoas queiram acompanhar a queima de fogos das ruas. Outra boa notícia, é a possibilidade de a Igreja da Penha ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Fonte: http://sergiocabral.com.br/acontece-do-alto-da-penha-paroco-nao-deixou-de-rezar-nem-mesmo-nos-piores-momentos-do-conflito

CAMPANHA DE VALORIZAÇÃO DO IDOSO



Aécio Neves lançou uma interessantíssima campanha de valorização do idoso com o apoio do cantor Zezé di Camargo. Nela Zezé recita em versos a tão conhecida música Couro de boi, onde o filho, por insistência da mulher, pede ao pai para deixar sua casa, pois não conseguem se combinar. Parafraseando a música, o filho dá ao pai um couro que acabou de curtir para seu pai se cobrir aonde ele ir.
Porém, o neto de oito ano, triste e calado, corre em direção ao avô com lágrimas nos olhos e lhe pede metade do couro, o avô comovido lhe dá e ele volta pra casa. Lá é interpelado pelo pai que lhe pergunta o que queria com o couro qua havia dado ao seu avô. O menino então lhe diz que podia ser que quando ele crescesse e seu pai ficasse velho, o pai iria com ele morar, poderia ser que os não iriam se combinar, então aquele pedaço de couro ao seu pai iria dar.
O interessante da campanha é que ela se torna profunda e de um grande reflexão, porque usa do cancioneiro regional, que interliga a cultura não só de Minas Gerias, mas de todo a região Centro-Oeste. Inclusive com marcante presença na cultura goiana.
Quiçá, consigamos respeitar e cuidar de nossos velhinhos alquebrados pelos anos e cheios de experiências que a vida lhes concedeu, e com os quais muito podemos aprender!


Outro vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=v7hrWz-_12g&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=PwdOgP2Yngw&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=F8SOVBGdOoI&feature=related

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MATRIMÔNIO - NECESSIDADES DE UMA BOA PREPARAÇÃO


UMA LEITURA E APLICAÇÃO DO DOCUMENTO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÔNIO


Murah Rannier Peixoto Vaz



  Como diria Pe. Zezinho: “Que nenhuma família comece em qualquer de repente...” Para tanto, o “curso de noivos é definido como tempo forte e especial da preparação para o casamento e a vida familiar. Situa-se dentro de um amplo quadro de esforços da Pastoral Familiar pré e pós-matrimonial” (Familiaris Consortio n. 66). O documento do Conselho Pontifício para a Família, “Preparação para o Sacramento do Matrimônio”, tem como ponto de partida a seguinte questão: “Quem contrai o matrimônio está realmente preparado para isso?” 

Em tempos de secularização em que já não encontramos tantos testemunhos dados pelos pais aos filhos na vivência do matrimônio, bem como, em tempos de mudanças na sociedade moderna, de perdas do sentido de Deus, do amor esponsal e negação da Verdade de Deus, faz-se necessário uma preparação adequada para que os noivos, em meio as dificuldades ambientais hodiernas encontradas, consigam superá-las reconhecendo o valor do sacramento e também da vocação ao matrimônio, assumindo as responsabilidades dos mesmos adquiridas no momento de seu consentimento no ato da liturgia sacramental. 

A estrutura do documento em seu primeiro capítulo quer ressaltar a importância da preparação para o matrimônio cristão. Já o segundo capítulo aprofunda-se no itinerário de preparação com suas diversas etapas ou momentos. Por fim, o terceiro capítulo aborda a celebração do matrimônio com o significado da liturgia, do rito, de seus símbolos, para preparar bem este momento, afim de que seja bem vivido, com a participação efetiva dos fiéis e, especialmente dos noivos, os ministros desse sacramento, para que celebrem com atenção e diligência esse momento que é o cume do caminho de preparação percorrido pelos noivos e de onde nasce a vida conjugal. 

O documento visa, portanto, a preparação para o matrimônio e a sua celebração. Esse objetivo é proposto através de um itinerário de preparação para o sacramento do Matrimônio apresentado, como visto, no segundo capítulo. No entanto, do que se trata esse itinerário? Trata-se de etapas de uma preparação progressiva e gradual para o matrimônio. São elas: preparação remota, próxima e imediata.


PREPARAÇÃO REMOTA

A primeira é aquela que desde a infância ainda no ambiente familiar os pais educam e colocam as bases sólidas para uma personalidade verdadeiramente madura e os alicerces da vida cristã para não só enriquecer a vida cristã, mas também transformar a sociedade. Essa primeira fase também é realizada na catequese, na preparação à primeira Eucaristia, nas reuniões com crianças em escolas, buscando temáticas que já na tenra infância preparem as crianças para o amadurecimento pessoal e, ainda que remotamente, a vivência do matrimônio e da família.

PREPARAÇÃO PRÓXIMA

Nessa etapa é importante o trabalho na turmas de crisma, nos grupos de adolescentes e jovens, pois nesta etapa já se está em um momento de preparação mais próxima para o casamento e a vida familiar. As reuniões desses grupos são momentos propícios para abordar os adolescentes e jovens sobre a reflexão da temática do casamento, o sentido da sexualidade humana, a grandeza do matrimônio, a indissolubilidade e fidelidade. Como em nossos dias muitos desses adolescentes jovens não vivem mais em famílias bem constituídas e devido à influência do ambiente generalizado de desrespeito para com a família, muitas vezes promovido pelos meios de comunicação social, será necessário insistir na questão da responsabilidade e do compromisso que envolvem a decisão do casamento. Este será momento propício de reflexão sobre a questão da vocação matrimonial, como também dos caminhos possíveis do sacerdócio e da vida religiosa consagrada.


Neste período, sobretudo no tempo do namoro firme, é importante que a pastoral promova dias de reflexão ou de encontro para namorados firmes. Que se estimule a vivência do verdadeiro sentido do noivado cristão, com uma possível celebração no final de um dia de reflexão e de oração, ou mesmo com as famílias dos noivos. A própria liturgia prevê hoje alguns ritos para o gesto e compromisso do noivado. Trata-se de um momento forte de um catecumenato matrimonial. A Pastoral Familiar deverá também promover cursos sobre educação para o amor. Se faz necessário tanto nas escolas junto a alunos e professores, quanto em outros ambientes, oferecer esclarecimentos a respeito da vocação humana, do sentido da vida, de uma orientação existencial na linha do amor que é dom de pessoa a pessoa e não simplesmente busca de si no outro. Frisa-se que um grande número de jovens, namorados ou não, têm intensa vida sexual sem compromisso algum de pessoa para com pessoa, torna-se mister recordar o uso indiscriminado de anticoncepcionais e mesmo a prática do aborto, e reorientar esses jovens para a autêntica vivência de uma relação de namoro.Visa-se através dessas iniciativas superar uma das grandes deficiências de nosso tempo que é a ausência de um projeto de vida a dois, de vida familiar e de vida espiritual conjugal e familiar com.


PREPARAÇÃO IMEDIATA




Nesta altura da caminhada pastoral é que se situa o curso ou encontro de noivos, objeto desta publicação. Teoricamente ele está situado no final da preparação próxima e no início da preparação imediata. Esta etapa compreenderia o diálogo com o sacerdote, a preparação espiritual imediata com os noivos, a pastoral da própria celebração do sacramento, precedida, eventualmente, de um retiro espiritual e de uma celebração do sacramento da confissão. A etapa próxima para a formação de autênticas famílias, é uma missão prioritária da Igreja, na qual todos os fiéis envolvidos no trabalho devem cooperar com empenho e dedicação, segundo as suas próprias condições e vocações, objetivando alcançar os mais fecundos e melhores resultados. Só na medida em que esta preparação remota e próxima se fizer a Igreja terá casais e famílias sólidos, verdadeiras “Igrejas Domésticas” que anunciam e vivem o Evangelho de Cristo, tanto com a palavra quanto com o testemunho, colaborando e ajudando a edificar um mundo mais humano e fraterno, e cultivando com maior intensidade, o direito, a justiça e a caridade cristã.


Para tanto, é necessário que bem antes dessa fase as dioceses, paróquias, comunidades cristãs e escolas coloquem elementos de uma preparação remota a fim de transformar a realidade do casamento e da família. Já o curso de noivos para jovens que estão num processo de busca da verdade, da maturidade, da fé e de Cristo, terá outro sentido, buscando promover um bom conhecimento do que, de fato, é o matrimônio cristão, seu significado, o que o sacramento constitui na vida do casal, o que é o consentimento, quais são as responsabilidades advindas do sacramento do matrimônio, compromisso público assumido diante de Deus e da sociedade. Esse documento torna-se, portanto, um importante subsídio com orientações práticas, para que sejam aplicadas em diversos âmbitos e pastorais da paróquia com todas as fases, daí a importância de se reunir e envolver, em espírito de uma pastoral orgânica e de conjunto, os grupos de Cursos de Noivos, Cursos de Batismo, Pastoral Famíliar, Grupos de jovens, catequese etc, para que unidos se aprofundem no conteúdo do processo de formação para o matrimônio e iluminem a ação das Equipes em seu essencial esforço de preparação dos novos casais para que vivam o verdadeiro sentido do matrimônio.

sábado, 20 de novembro de 2010

HONESTIDADE NÃO DEPENDE DE POSIÇÃO SOCIAL

SEM-TETO DEVOLVE US$ 3,3 MIL ACHADOS EM MOCHILA NOS EUA

'Nem todo mundo que vive nas ruas é um criminoso', disse Dave Talley.
Estudante dono da mochila disse que juntava dinheiro para comprar carro.



Um homem que vive nas ruas de Tempe, no estado americano do Arizona, encontrou uma mochila numa estação de trem contendo US$ 3,3 mil (cerca de R$ 5,6 mil) e resolveu devolvê-la ao dono.
Dave Talley teve um encontro nesta sexta-feira (19) com o dono do dinheiro, um estudante identificado por um serviço de achados e perdidos onde o sem-teto devolveu a mochila.

O morador de rua, que disse ter problemas com drogas e ter perdido a casa onde vivia há sete anos, admitiu que pensou em ficar com o dinheiro, mas se arrependeu e resolveu tentar devolvê-lo ao dono.
“Nem todo mundo que vive nas ruas é criminoso. Pensei que não era meu dinheiro”, disse.

O estudante Brian Belanger disse que já tinha perdido a esperança de reaver a mochila, cinco dias após ter perdido, quando recebeu a notícias de que havia sido devolvida, e com o dinheiro.

“Essa é a coisa mais impressionante que eu já vivi. É uma lição que nos faz manter a fé nas pessoas, não importa em que circunstâncias estejam”, disse Belanger.

O estudante, que disse que economizou o dinheiro para comprar um carro, agora planeja trabalhar como voluntário numa organização de ajuda aos sem-teto.


Link: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/11/sem-teto-devolve-us-33-mil-achados-em-mochila-nos-eua.html

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O QUE É QUE A INTOLERÂNCIA RELIGIOSA NÃO FAZ, HEIM?!?



Por reza, Chicharito é ameaçado até de morte pela torcida do Rangers

Técnico escocês Alex Ferguson pede para mexicano do Manchester United não repetir gesto no gramado antes do duelo da próxima quarta, em Glasgow

O técnico do Manchester United, Alex Ferguson, pediu ao atacante Javier Chicharito Hernández não rezar em campo antes da partida contra o Rangers, na próxima quarta-feira, em Glasgow, pela quinta rodada do Grupo C da Liga dos Campeões. Escocês, o treinador teme pela saúde do mexicano, que tem sido ameaçado até de morte.

As ameaças foram motivadas por conta da mistura entre futebol, religião e política no país. Chicharito costuma erguer as mãos enquanto está ajoelhado no gramado para pedir sorte, mas o ato parece não ter muitos fãs da torcida do Rangers. Precavidos, os dirigentes escoceses também pediram ao mexicano para não repetir o gesto.

Na Escócia, Glasgow Rangers e Celtic representam o protestantismo e o catolicismo, respectivamente, além de apoiarem causas diferentes (os azuis defendem a união política com a Inglaterra; os verdes, no entanto, pregam a independência). O clássico, reconhecido como um dos maiores do mundo, atrai quase sempre violência.

Por GLOBOESPORTE.COM Manchester, Inglaterra Link: http://globoesporte.globo.com/futebol/liga-dos-campeoes/noticia/2010/11/por-reza-chicharito-e-ameacado-ate-de-morte-pela-torcida-do-rangers.html

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

TRINDADE: CONVITE À COMUNHÃO


Andrei Rublev (c.1370-1430), ícone da Trindade


Murah Rannier Peixoto Vaz
O filme “Andrei Rublev”, do diretor Andrei Tarkovsky, gravado no ano de 1966, é ambientado na Rússia do início do séc. XV. Destacam-se entre os personagens três monges: Danila, Cirilo e Andrei, que no filme é biografado de forma romanceada e até mesmo poética. Em torno deste último é que o filme se desenvolverá e em torno de quem as cenas e todos os diálogos giram. Andrei vive em constante conflito interno devido a uma não aceitação do juízo final como uma cena de medo, mas entende-a como uma cena de amor, de acolhida.
Assim como Andrei se questiona, o filme quer levar seus espectadores a se questionarem sobre: Qual imagem de Deus eu tenho? Qual é a minha imagem de juízo final? A partir dessas questões surgem outras: Que imagem de Deus e do juízo final eu apresento aos outros? Que tipo de fé vamos colocar na Igreja? Em que consiste o julgamento?
Ao questionarmos sobre que imagem de Deus estamos oferecendo, convém refletirmos sobre que imagem de Deus nós cremos. Se uma imagem de um Deus amoroso, um Deus Pai misericordioso e acolhedor, ou se cremos e apresentamos um Deus contabilista, que provoca medo, que anota os pecados para nos cobrar, um Deus vingativo, que pune e castiga.
Alguns dos diálogos do filme são de imensa profundidade ao analisar tais questões. O monge iconógrafo, Andrei, em um dado momento do filme, faz a seguinte afirmação: “Só tem medo quem não ama”. Esta será sua grande dificuldade, porque não consegue pintar o quadro do juízo final aos moldes como era pintado por outros pintores e iconógrafos.
Um dos ajudantes de Andrei quando era torturado pelos tártaros disse: “Deus fará suas tripas arderem no fogo da Geena”. Será mesmo que Deus faria algo assim? Pouco depois os tártaros despejam um líquido fervente em sua boca e assim o filme mostra que uma atitude tal como essa é possível aos homens, mas não pode ser atribuída a Deus.
O filme aborda reflexões sobre o mal, o sofrimento e a dor. De onde elas viriam, poderiam vir de Deus? De Deus não pode vir o mal, porque este, justamente, só existe em razão da ausência de bem ou do afastamento do bem. Do mesmo modo como as trevas e a escuridão só existem em decorrência da ausência de luz. Conseqüentemente, o mal só pode vir do próprio homem ao fazer o mau uso de sua liberdade, dádiva concedida por Deus.
“Massacram (...), violam (...), saqueiam (...)”, segundo Andrei, estes são os modos como os homens agem. Prosseguindo em seu diálogo, Andrei conta a Feafan um sonho que tivera e relata a fala de um tártaro, que assim se refere aos homens: “Mesmo sem nós, dareis cabo uns dos outros, como lobos”. Nessa fala percebe-se uma visão pessimista e negativa do homem, percebe-se também que o mal não surge apenas de uma nação contra a outra, um povo contra o outro, mas parte do próprio homem em suas relações. Como visto no momento em que, por ciúmes, Cirilo abandona o mosteiro e se volta contra os monges. Logo após, ele descarrega todo o seu ódio no pobre cachorro que correu para acompanhá-lo, ou como, por exemplo, na rivalidade entre os dois príncipes, que são irmãos. Aqui, possivelmente, evoca-se a imagem de Caim e Abel.
Porém, diferentemente do que diz o tártaro, há no homem certa ambigüidade, como nessa fala de Andrei: “(...) Alguma coisa que não te sai ou estás cansado, e eis que encontras um olhar humano e é como se tivesse comungado, ficado mais leve. (...)”. De fato, cre-se que também a salvação passa pelo próprio homem e é Cristo quem apresenta ao homem a verdadeira humanidade, faz-se, ele mesmo, o Verbo divino incriado, carne, ou seja, torna-se um igual a nós, menos no pecado, e arma sua tenda em nosso meio, caminhando conosco nos convida a irmos com ele ao Pai, pela ação do Espírito.
Voltando à questão da imagem de Deus e do juízo, Cirilo ao travar diálogo com Feafan sobre as obras de Andrei faz a seguinte observação: “Falta-lhe qualquer coisa, falta-lhe o medo, a fé.” Assinala-se aqui a incompreensão da visão amorosa de Deus que tem Andrei. Em outro momento, o próprio Andrei ao travar uma conversa com Feafan, lhe diz: “Se apenas se apelar para o mal, nunca haverá felicidade perante Deus.” Danila insistindo com Andrei para que este pinte logo o quadro do juízo final, lhe diz: “É só pintar. (...) Estamos a perder um tempo ótimo! Quente e seco! Há muito teríamos acabado a cúpula e os pilares. Com cores fortes e expressivas! Com pecadores a arder no inferno... de maneira a provocar arrepios. Imaginei cá um diabo! Assim, a fumegar pelo nariz.” Andrei o interpela: “O problema não está no fumo (fumaça)! Vai contra mim. Dá-me nojo! Não quero assustar o povo. Compreende-me, Danila!” Crendo que o visível nos faz contemplar o invisível e que ele torna-se uma janela por onde se entrevê o absoluto, Andrei não acredita em uma tal imagem de Deus e do juízo, como as propostas por Danila, e prefere não pintar a ser incoerente consigo mesmo.
No entanto, em um momento de reflexão, Andrei se levanta e diz: “É uma festa”. Esta é a conclusão à qual chega o pintor, esse é o juízo! Anos mais tarde, Andrei pinta o ícone da Trindade, tomando a releitura que os padres da Igreja fizeram dos três anjos sob o carvalho de Mambré, como relatado no Antigo Testamento. Andrei pinta-os com uma idêntica fisionomia, sentados a mesa, com um dos lados desocupado, justamente aquele que está diante da pessoa que observa o ícone, como que convidando-o para participar do banquete da Trindade. Sob a mesa está o cálice e o convite é para a vivência da comunhão, para a vivência de um profundo amor. Essa é a concepção de juízo para Andrei, um Deus que convida à comunhão, que não pode obrigar seus filhos a ela, por tê-los dado a liberdade, o inferno será ficar de fora dessa festa e o que ocorre se dá pela livre rejeição do convite divino. Assim compreende-se também que imagem de Deus Andrei quis apresentar em seu ícone.
Nas primeiras cenas do filme vê-se um homem que constrói um balão e alça vôo, sobe alto, de lá vê pessoas, animais e campos, porém ele cai. Creio que essa seja uma maneira simbólica de tratar a vontade de transcendência do homem, vontade de ir além de si mesmo, de atingir o infinito. Que, todavia, ao tirar Deus de cena, ou seja, querer transcender por si mesmo, deixando Deus de lado e negando-o, acaba por cair (pecado), desabando como um castelo de cartas de baralho, porque é um ser limitado e só chega a uma verdadeira transcendência a partir do convite divino e por meio d’Ele. Conclui-se, que o desejo de transcedência humano só se torna efetivo quando o homem consegue compreender a grandeza de um Deus que lhe convida a sentar-se e comer com Ele, elevando-o a condição de igualdade, em uma vida de comunhão fraterna. O convite é d’Ele, a resposta é sua!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO DO ANO LITÚRGICO.



Murah Rannier Peixoto Vaz
1 - A Páscoa semanal: princípio de toda a liturgia cristã.
O ano litúrgico foi se desenvolvendo no decorrer da história da Igreja, não de maneira orgânica e sistemática, mas de forma gradual e lentamente. A princípio a páscoa semanal constituía o único centro da pregação, da celebração e da vida cristã. De tal modo, o “culto na Igreja nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa”, pois ela é um evento que resume e faz valer todo o conjunto da vida e obra salvífica de Cristo para a nossa salvação.
Conseqüentemente, com a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, o Shabat (sábado), que para os judeus era dia de santificação, repouso e oração, se desloca para o primeiro dia da semana, que também passa a ser chamado de primeiro dia da nova-criação e oitavo dia da criação e é denominado como domingo (dies domini), o dia do Senhor. E este se torna a espinha dorsal de todo o ano litúrgico.

Portanto, o domingo como dia da celebração do mistério Páscal, torna-se também:
1 - Dia da Páscoa: dia de memória e presença do Cristo, morto-ressucitado, de sua ascensão, da efusão do Espírito, e da esperança em sua vinda gloriosa.
2 - Dia da assembléia: dia de reunião dos fiéis. “Onde dois ou mais estiverem em meu nome eu aí estarei.”
3 - Dia da Eucaristia: é dia de ouvir a Palavra, entrar em comunhão com o Cristo, com seu ápice no sacramento, essa comunhão e a Palavra que ressoa em nossos ouvidos e no coração nos impulsiona ao serviço. Sendo dia da Eucaristia, é também dia de santificação dos homens e da glorificação de Deus.
4 - Dia da missão e da caridade: é dia de assumir a missão de Cristo: “Tive frio e me agasalhastes...”; “O Espírito do Senhor está sobre mim, e ele me ungiu e me enviou...”. Assim, a Eucaristia, celebrada no domingo, é um ponto de chegada, mas também de partida, pois não se esgota dentro das paredes do templo, mas impele o cristão para o testemunho com a vida e o serviço de caridade.
5 - Dia da alegria: é dia da festa das festas, pois Cristo venceu a morte e deu-nos vida por sua morte.
2 - A Páscoa Anual: Núcleo do Ano litúrgico.

Para uma maior exaltação do dia da Páscoa, já nos primeiros tempos foi se entendendo a necessidade de uma grande celebração da Páscoa Anual e, daí por diante, passo a passo, foi se dando início a um movimento litúrgico que foi inserindo e distribuindo no decorrer do ano civil as festas do Senhor, dos santos, dos mártires, da Mãe de Deus, insere-se o ciclo natalino etc.
Assim, da celebração anual da Páscoa surge um grande dia de vigília, da passagem de Cristo da morte para a ressurreição. Em torno desse núcleo, que é a Páscoa, aos poucos foi se inserindo e se formando o Tríduo Pascal, que celebra a morte (sexta-feira santa), o sepultamento (sábado santo) e a ressurreição (domingo de aleluia com a grande vigília). Posteriormente, ainda foi inserida, como um prolongamento da festa Pascal, os cinqüenta dias do tempo pascal até o dia de Pentecostes. E com o passar dos séculos novas formas de liturgia e celebração vão sendo inseridas no ano litúrgico. Ali pelo século III, inseriu-se o batismo na noite da vigília pascal; no século IV nasceu a semana santa e foi inserida, na manhã da quinta-feira santa, uma reconciliação dos penitentes; já no século VII, foi inserida a missa do Crisma e, posteriormente, o período que antecede a celebração penitencial, foi cahamado de Quaresma, como período de preparação e penitência para a participação da festa anual de Páscoa.

Ainda no século IV, nasceu o ciclo natalino, de maneira acidental a princípio, como forma de cristianizar o dia considerado mais longo do ano, o 25 de dezembro, onde era celebrada a festa pagã do Deus sol. Nesse dia, a comunidade cristã começou a celebrar a festa do nascimento de Cristo, a qual no ocidente se chamou Natal e no oriente, em data diferente, mas com o mesmo objetivo, chamou-se Epifania, a manifestação da divindade de Cristo na carne. Ao redor dessa festa, foi se formando o tempo do advento, com seu duplo sentido, manifestação gloriosa de Cristo (2ª vinda - Parusia) encarnação (1ª vinda de Cristo).
Como vimos, o ano litúrgico não se formou a partir de um plano concebido, de maneira sistematizada, mas na verdade foi se desenvolvendo e expandindo progressivamente.
São dois os principais fatores que fazem do ano litúrgico uma forma importante de vivenciar o mistério salvífico: Pedagógico e teológico. Como razão pedagógica é uma forma de explicitar e apresentar os diversos momentos e aspectos do insondável e incomensurável mistério e como razão teológica torna-se uma forma de compreender a precisa conotação e seu valor próprio no plano de Deus, ou seja, os gestos e modos como Deus se manifestou na carne de seu filho e o qual a comunidade primitiva entendeu como cumprimento de toda a história de Israel. Assim fica impossível entender o Antigo Testamento sem as luzes do Novo Testamento e vice-versa.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

ENTREVISTA SOBRE BIOÉTICA - PARTE I

Esta entrevista foi cedida em meados do segundo semestre de 2009, na cidade de Campo Alegre as alunas do Colégio APROV de Catalão, Thávila kaline Miranda da silva e Carollina José da Silva.
ENTREVISTA:
Apresentação:
O entrevistado se chama Murah Rannier Peixoto Vaz, tem 25 anos, é Bacharel em Filosofia pelo Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz, seminarista da Diocese de Ipameri e atualmente faz estágio na Paróquia Nossa Senhora do Amparo em Campo Alegre de Goiás.
1 – A clonagem humana para fins do avanço da ciência é uma polêmica, principalmente quando se trata de questões religiosas. Qual a sua visão?


O pensamento que gerou a idéia de clonagem humana, de certa forma, advém do período da segunda grande guerra quando cientistas, entre eles Mengele, a mando de Hitler fizeram várias experiências todas elas contrárias à Bioética, seres humanos eram usados como cobaias e todo tipo de testes eram realizados. O avanço da ciência não é justificável a custa de tudo e de todos. Ou seja, precisamos ter limites e é para refletir sobre esses limites que se criou a Bioética, uma ciência considerada nova, com formulação terminológica criada em 1971, mas com fundamentos alicerçados na antiga Grécia, séculos antes de Cristo.
Pensadores como Sócrates, Platão, Aristóteles, entre outros, foram os que por primeiro contribuíram com a investigação ética. A Bioética atual não difere de suas raízes, ela aborda problemas que atingem a cada pessoa individualmente e a humanidade como um todo.
Mas porque abordo isso, haja vista que falamos de clonagem? Pois antes de falarmos de clonagem devemos refletir a fundo no pensamento que a originou.


Hitler com sua defesa da raça Ariana, a qual acreditava ser superior as demais, influenciado pela filosofia nietzscheniana do “Super-homem”, pensava que o mundo devia se submeter a Nação Ariana e dar lugar a ela. Ele era um entusiasmado adepto da teoria da higiene racial, doutrina "científica" que pregava a eliminação dos genes não arianos do povo alemão. Felizmente, Hitler não atingiu sua intenção, mas, em termos, seu pensamento perdura até hoje.


O quando começa a vida é uma questão bem controversa, até mesmo no meio científico isso gera polêmica.
Biologicamente percebemos que a vida começa em sua concepção, no ato do fecundar o óvulo. Seja por via natural ou artificial em laboratórios. A defesa da dignidade do embrião não tem nada a ver com religião, na verdade é puramente no plano técnico, científico e biológico que nos posicionamos para essa defesa, mesmo que, todavia, a visão cristã também beba nessas fontes.


Eu já fui um embrião, cada um dos que tiverem contato com essa entrevista também já foi. Pergunto, então, e se tivéssemos sido manipulados para algum outro fim? Não tínhamos direito a vida? A diferença entre um óvulo fecundado e você, é o TEMPO e a NUTRIÇÃO.


Alguns argumentam que este seria um modo capaz de salvar milhares de vidas e de fato é. Muitos já deram suas vidas livremente para salvar a vida de outra pessoa, pois tinham liberdade para tomar suas próprias decisões. Mas imaginem se baixassem um decreto que obrigasse que um certo número de brasileiros adultos dessem a vida para salvar a vida de outros brasileiros adultos, quem concordaria?
Nesse aspecto concordo com Carlos Serrano que afirma que:
“Ninguém pode dispor da vida de um embrião, ainda que para um fim benéfico... Porque os fins não justificam todos os meios. Quando um meio é intrinsecamente mau e, para mim, matar um embrião é intrinsecamente mau, não podemos utilizá-lo, mesmo que seja para obter o melhor benefício deste mundo. A não ser que o embrião pudesse dar o seu consentimento.”
De tal forma quem protege o embrião está protegendo a toda a sociedade. Se defendemos que podemos manipular um embrião com menos de 14 dias pelo fato de seu tecido nervoso não ter se formado totalmente é o mesmo que defendermos a morte de um débil mental por seu cérebro não funcionar corretamente. Um cientista não pode ter o direito de escolher quem vai viver usando uma vida para salvar outra. Isso abriria um precedente perigoso para a vida


Não podemos ser utilitaristas, usar embriões ou pessoas fere a vida, pois não somos coisas e tanto o embrião quanto um homem adulto são seres humanos ainda que em estágios diferentes. Da mesma forma como a semente é uma árvore em potência o embrião assim também o é. Dê ao embrião as condições favoráveis para seu desenvolvimento e ele será outro humano adulto.


Assim sendo, tanto o uso do embrião de forma que o mate ou o seu descarte pode ser considerado um aborto, pois a raiz etnológica da palavra aborto significa, entre outros, privação do nascimento, frustrar, malograr e descartar, ou seja, matar um embrião para fins de tratamento seria frustrar ou malograr uma vida. “Se com a fecundação se inicia um processo autogovernado pelo próprio embrião, está mais do que certo que essa formação vital possui a qualidade de ser humano”. (DINIZ, 2001)