quinta-feira, 4 de novembro de 2010

DESENVOLVIMENTO PROGRESSIVO DO ANO LITÚRGICO.



Murah Rannier Peixoto Vaz
1 - A Páscoa semanal: princípio de toda a liturgia cristã.
O ano litúrgico foi se desenvolvendo no decorrer da história da Igreja, não de maneira orgânica e sistemática, mas de forma gradual e lentamente. A princípio a páscoa semanal constituía o único centro da pregação, da celebração e da vida cristã. De tal modo, o “culto na Igreja nasceu da Páscoa e para celebrar a Páscoa”, pois ela é um evento que resume e faz valer todo o conjunto da vida e obra salvífica de Cristo para a nossa salvação.
Conseqüentemente, com a ressurreição de Cristo no primeiro dia da semana, o Shabat (sábado), que para os judeus era dia de santificação, repouso e oração, se desloca para o primeiro dia da semana, que também passa a ser chamado de primeiro dia da nova-criação e oitavo dia da criação e é denominado como domingo (dies domini), o dia do Senhor. E este se torna a espinha dorsal de todo o ano litúrgico.

Portanto, o domingo como dia da celebração do mistério Páscal, torna-se também:
1 - Dia da Páscoa: dia de memória e presença do Cristo, morto-ressucitado, de sua ascensão, da efusão do Espírito, e da esperança em sua vinda gloriosa.
2 - Dia da assembléia: dia de reunião dos fiéis. “Onde dois ou mais estiverem em meu nome eu aí estarei.”
3 - Dia da Eucaristia: é dia de ouvir a Palavra, entrar em comunhão com o Cristo, com seu ápice no sacramento, essa comunhão e a Palavra que ressoa em nossos ouvidos e no coração nos impulsiona ao serviço. Sendo dia da Eucaristia, é também dia de santificação dos homens e da glorificação de Deus.
4 - Dia da missão e da caridade: é dia de assumir a missão de Cristo: “Tive frio e me agasalhastes...”; “O Espírito do Senhor está sobre mim, e ele me ungiu e me enviou...”. Assim, a Eucaristia, celebrada no domingo, é um ponto de chegada, mas também de partida, pois não se esgota dentro das paredes do templo, mas impele o cristão para o testemunho com a vida e o serviço de caridade.
5 - Dia da alegria: é dia da festa das festas, pois Cristo venceu a morte e deu-nos vida por sua morte.
2 - A Páscoa Anual: Núcleo do Ano litúrgico.

Para uma maior exaltação do dia da Páscoa, já nos primeiros tempos foi se entendendo a necessidade de uma grande celebração da Páscoa Anual e, daí por diante, passo a passo, foi se dando início a um movimento litúrgico que foi inserindo e distribuindo no decorrer do ano civil as festas do Senhor, dos santos, dos mártires, da Mãe de Deus, insere-se o ciclo natalino etc.
Assim, da celebração anual da Páscoa surge um grande dia de vigília, da passagem de Cristo da morte para a ressurreição. Em torno desse núcleo, que é a Páscoa, aos poucos foi se inserindo e se formando o Tríduo Pascal, que celebra a morte (sexta-feira santa), o sepultamento (sábado santo) e a ressurreição (domingo de aleluia com a grande vigília). Posteriormente, ainda foi inserida, como um prolongamento da festa Pascal, os cinqüenta dias do tempo pascal até o dia de Pentecostes. E com o passar dos séculos novas formas de liturgia e celebração vão sendo inseridas no ano litúrgico. Ali pelo século III, inseriu-se o batismo na noite da vigília pascal; no século IV nasceu a semana santa e foi inserida, na manhã da quinta-feira santa, uma reconciliação dos penitentes; já no século VII, foi inserida a missa do Crisma e, posteriormente, o período que antecede a celebração penitencial, foi cahamado de Quaresma, como período de preparação e penitência para a participação da festa anual de Páscoa.

Ainda no século IV, nasceu o ciclo natalino, de maneira acidental a princípio, como forma de cristianizar o dia considerado mais longo do ano, o 25 de dezembro, onde era celebrada a festa pagã do Deus sol. Nesse dia, a comunidade cristã começou a celebrar a festa do nascimento de Cristo, a qual no ocidente se chamou Natal e no oriente, em data diferente, mas com o mesmo objetivo, chamou-se Epifania, a manifestação da divindade de Cristo na carne. Ao redor dessa festa, foi se formando o tempo do advento, com seu duplo sentido, manifestação gloriosa de Cristo (2ª vinda - Parusia) encarnação (1ª vinda de Cristo).
Como vimos, o ano litúrgico não se formou a partir de um plano concebido, de maneira sistematizada, mas na verdade foi se desenvolvendo e expandindo progressivamente.
São dois os principais fatores que fazem do ano litúrgico uma forma importante de vivenciar o mistério salvífico: Pedagógico e teológico. Como razão pedagógica é uma forma de explicitar e apresentar os diversos momentos e aspectos do insondável e incomensurável mistério e como razão teológica torna-se uma forma de compreender a precisa conotação e seu valor próprio no plano de Deus, ou seja, os gestos e modos como Deus se manifestou na carne de seu filho e o qual a comunidade primitiva entendeu como cumprimento de toda a história de Israel. Assim fica impossível entender o Antigo Testamento sem as luzes do Novo Testamento e vice-versa.

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