quinta-feira, 1 de novembro de 2012

IGREJA & COMUNHÃO DOS SANTOS



Murah Rannier Peixoto Vaz
 
O dia 1º de novembro é o dia de "Todos os Santos", conhecidos e desconhecidos, reconhecidos ou anônimos. Por sinal, a Igreja Católica é um celeiro de santas vocações e isso ocorre em todos os períodos de sua história, mesmo em seus momentos difíceis. Isso porque a Igreja é Santa, ela é o corpo místico de Cristo (1 Cor 10,16-17) inserido na história e o corpo de Cristo (a Igreja) unido à sua cabeça (Cristo) não é um corpo pecador. A Igreja também é Sacramento de Cristo e, por esse motivo, Sacramento Universal da Salvação. De tal modo, uma multidão de homens e mulheres que passaram pela morte nos antecedem e já gozam das delícias celestes (Hb 12, 1).


 
Pelo Batismo, a Igreja gera novos filhos e filhas pela graça do Espírito Santo. Este mesmo Espírito a renova e a faz sempre nova, sem mácula e nem ruga, para apresentar-se santa e irrepreensível diante de seu divino esposo com quem se uniu de tal forma que se tornaram uma só carne. Essa união é um profundo mistério proclamado por São Paulo em sua Carta aos Efésios (5,21-33). Por tudo isso, hoje é um dia de grande alegria para nós, pela certeza de que muitos irmãos e irmãs se fazem presentes na Igreja Triunfante, a Igreja Celeste, e de lá rogam por nós por estarem plenamente unidos à Cristo.


Nesse dia de "Todos os Santos" é justo refletir sobre a comunhão dos santos que se dá na unidade eclesiológica. Hoje transbordamos de alegria por tantos homens e mulheres que em suas vidas se conformaram tão perfeitamente ao Cristo que o transpareceram em seus gestos e atitudes, que mereceram adentrar ao Reino prometido por Cristo, na Jerusalém Celeste, a Igreja Exultante e Triunfante .
Isso também nos faz olhar para nossos outros irmãos e irmãs que em suas vidas lutaram para perseverar e também dar testemunho de Cristo, que tiveram seus deslizes, seus erros e pecados[1], mas também acertos e a conversão de vida. Estes, por sua vez, passam pela purificação de suas faltas, pelo crisol (fogo) purificador[2] (1 Cor 3,11-15). Deus os purifica assim como um ourives que tira todas as impurezas do ouro para que a jóia possa transparecer com todo a sua beleza. Estes nossos irmãos e irmãs que se purificam formam aquilo que chamamos de "Igreja Padecente" e passam por aquilo que se convencionou chamar de Purgatório, de onde niguém sairá até que se pague o último centavo (Mt 5,22-23).
Por outro lado, voltar nossos olhares para a Igreja Triunfante e para a Igreja Padecente leva-nos a um terceiro olhar, que recai sobre nós que aqui estamos e que formamos a "Igreja Militante" ou "Peregrina". Nós, membros da "Igreja Militante" podemos olhar para as virtudes dos Santos (as) (Igreja Trinfante) e para os limites de muitos de nossos irmãos (Igreja Padecente) e buscar seguir a via de Cristo, a via da perfeição, tendo os santos como modelos e setas que nos apontam essa via de Cristo e sabendo, porém, que muitos de nossos irmãos e irmãs necessitam de nossas orações (2 Mc 12,38-46) para que possam, purificados pelo crisol do purgatório (Lc 12,45-48), também merecer a graça de adentrar à "Igreja Triunfante". Nisso consiste a comunhão dos santos, todos nós unidos e auxiliando-nos uns aos outros nessa caminhada. Triste vida é a daqueles que rejeitam tal comunhão, que, por primeiro, trata-se de uma comunhão com o Cristo que nos une nele, com ele e por ele.
Em suma, como todo o corpo padece se um de seus membros sofre com a dor ou doença, também todo corpo partilha daquele alimento que é ingerido ou do remédio que vem para sanar a doença e a dor. Assim acontece com os santos, pois além dos méritos de Cristo que lhes uniu em si, lhes concedeu a salvação e as graças necessárias, também os méritos pessoais, ainda que sejam resposta à própria graça de Deus que nos capacita para toda boa obra, são levado em conta e agora estão à disposição para a comunhão de todo o corpo, ou seja, de toda a Igreja (Celeste, Padecente ou Militante).
Quando dizemos no Credo “creio na comunhão dos Santos”, professamos que nós da Igreja Militante podemos interceder pelos mortos (Igreja Padecente), intercerder por nossos outros irmãos e irmãs, ainda que sejam aqueles que nos fazem o mal, além de pedir a intercessão dos santos por nós[3] e também pelos mortos. Como vimos, os santos, nossos irmãos que gozam da glória de Deus (Igreja Triunfante/Celeste), podem interceder por nós e por aqueles que estão no Purgatório. Já nossos irmãos que padecem no purgatório são sempre necessitados e carecem de nossas orações, indulgências e sufrágios por suas almas para que pufiquem-se[4] e possam então gozar das delícias do Reino de Deus.
 


 

Quanto mais caminhamos em nossa fé e em nossa vida de Igreja, tanto mais crescemos em nossa compreensão sobre as Escrituras e na “nossa , que da Igreja recebemos e sinceramente professamos, razão de nossa alegria em Cristo, nosso Senhor”. Reconheçamos, então, que:
“A Igreja não é uma Instituição humana
mas, uma Instituição divina,
não é uma corporação,
mas o Corpo de Cristo.
 
Cristo é a cabeça da Igreja
e seus membros são os cristãos batizados
que vão conformando suas vidas à Cristo".
 
            Portanto, se existem santos isso deve ao fato de que uniram suas vidas ao "Santo dos Santos".  Trilhemos também nós esse caminho de santidade...




[1] Há pecados que não provocam uma morte ou pena eterna (inferno) e outros que sim. Vejamos o que diz São João em sua 1ª carta “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não conduz à morte, que ele ore e Deus dará a vida a este irmão, se, de fato, o pecado não conduz à morte. Existe pecado que conduz à morte, mas não é a respeito deste que digo que se ore. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não conduz à morte”. Embora não conduzam para a pena eterna, esses pecados não excluem as penas temporais, que podem ser sanadas já em vida, pela oração, penitência e caridade, mas se no fim da vida ainda restou ainda alguma pena, depois da morte há o purgatório.
[2] Bento XVI afirmou na sua catequese de quarta-feira, dia 12 de outubro de 2011, que: "O purgatório não é um elemento das entranhas da Terra, não é um fogo exterior, mas interno. É o fogo que purifica as almas no caminho da plena união com Deus". Trata-se, portanto, de uma experiência de encontro com Deus e caminho de conversão rumo à eternidade.
[3] Tenhamos bem claro que pedir a intercessão e o culto de veneração que prestamos aos santos (dulia) em nada se compara à adoração (latria) que prestamos a Deus. São ações diferentes e quem afirmar que um católico adora aos santos compreendeu mal nossa doutrina e nos acusa falsamente. Trata-se, portanto de um ataque infundado, sem razão, difamatório e calunioso. A Igreja Católica proíbe aos seus fieis qualquer tipo de adoração aos santos, pois esse tipo de culto deve ser dirigido apenas a Deus. Enquanto cristãos, os católicos creem na Santíssima Trindade, o Deus Uno e Trino (Pai, Filho e Espírito Santo), portanto, orações de adoração podem ser dirigidas às três pessoas da Santíssima Trindade.
[4] Os filhos de Levi cometeram um pecado e por isso perderam a vida, mas o profeta Malaquias afirma em seu livro que mesmo eles serão purificados: “Quem poderá suportar o dia de sua chegada? Quem poderá ficar de pé, quando ele aparecer? Porque ele é como o fogo do ourives e como o sabão dos lavadeiros. Ele virá para fundir e purificar a prata. Ele purificará os filhos de Levi, e os acrisolará como ouro e prata” (Ml 3,2-3).