sábado, 6 de agosto de 2011

Autobiografia de dom Eduardo, bispo de Goyaz

Já faz tempo que foi lançada essa biografia, tive a oportunidade de estar presente no lançamento e aproveito para divulgar para os amantes da história.
Católica lança a autobiografia de
dom Eduardo, bispo de Goyaz

(29/11/2007) - Ao comemorar 48 anos de história a serviço da educação no Centro-Oeste do Brasil, a Universidade Católica de Goiás, através do seu Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central (IPEHBC) e da Editora UCG, lançou, neste dia 29, o livro “Passagens – Autobiografia de Dom Eduardo Duarte Silva, Bispo de Goyaz”, que integra a série “Memória Religiosa”. A obra é importante para se conhecer o pensamento de um Bispo do final do século XIX e o período chamado de “romanização” da Igreja no Brasil, especificamente no Estado de Goiás e Triângulo Mineiro. Veja mais fotos.

Com a obra, a UCG “quer contribuir para a preservação da memória da Igreja goiana, um maior conhecimento da história de Goiás e da formação religiosa de nossa gente”, ressaltou, na sua apresentação, o reitor Wolmir Amado. O lançamento foi prestigiado pelo chefe de Gabinete da Reitoria, professor Giuseppe Bertazzo, e pelos presidentes do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, escritor Aidenor Aires, e da Academia Belavistense de Letras e Artes, Nanci Ribeiro e Silva, dentre outros.

Manuscrito
O livro, de acordo com o diretor do IPEHBC, Antônio César Caldas Pinheiro, tem o seu original em um manuscrito autógrafo escrito a partir das lembranças, anotações e documentos recolhidos pelo autor. “Para chegarmos a esta versão – disse – foi necessário pesquisa em vários arquivos goianos”. Explicou que já se sabia da existência dessa autobiografia, por dela ter-se utilizado o escritor goiano cônego José Trindade da Fonseca e Silva, citando-a em seu livro “Lugares e Pessoas”. O primeiro contato do IPEHBC com a obra foi por meio do pesquisador Amir Salomão Jacob, que forneceu a cópia de uma transcrição datilografada pelo padre Renato de Francisco, redentorista, datada de 28 de novembro de 1962. Essa transcrição não continha todo o manuscrito, apenas a parte referente aos anos em que ele fora Bispo de Goiás.

De posse dessa cópia, “que julgávamos ser única, e não tendo notícias do original, o diretor do IPEHBC, à época o escritor José Mendonça Teles, mandou digitá-la para uma posterior publicação”, disse. Até esse momento não se conhecia o original manuscrito, quando um estudioso da vida de dom Eduardo, o pesquisador Josmar Ferreira da Silva, informou da existência do original com os padres redentoristas de Trindade. Localizado o manuscrito, a professora Janira Sodré Miranda, então diretora do IPEHBC, conseguiu o seu empréstimo ao Instituto para se realizar a sua transcrição e cotejar o original com a transcrição do padre Renato, “que se mostrou defeituosa, faltando-lhe alguns trechos, com as frases em latim ou em outras línguas neolatinas estropiadas e mesmo com imprecisões na transcrição”.

Josmar Ferreira da Silva, freqüentador assíduo do IPEHBC, ultimando sua pesquisa sobre dom Eduardo, localizou o seu “Diário”, a primeira versão de seus escritos, as anotações primeiras de dom Eduardo, redigidas no caminho para Goiás, nas suas viagens pastorais ou em seus aposentos no antigo Seminário Santa Cruz, anotações referenciadas algumas vezes em sua autobiografia. “No cotejamento entre “Passagens” e o “Diário”, claro está que dom Eduardo, depois de se retirar de Goiás, utilizou o Diário como fonte para escrever a primeira parte de sua autobiografia, já que ele cobre o tempo mediado entre a sua nomeação para bispo de Goiás, a sua entrada na sede diocesana de Sant’Ana de Goiás, a viagem a Trindade e Muquém e seu retorno à Cidade de Goiás”, esclareceu.

A segunda parte – que conta a transferência da sede diocesana da Cidade de Goiás para Uberaba, a criação da Diocese de Uberaba em 1907 e sua nomeação para bispo dessa Diocese, sua renúncia ao Episcopado em 1923 e sua mudança para o Rio de Janeiro – foi escrita posteriormente e terminada quando já estava radicado no Rio.

“Assim, uma análise da primeira parte da autobiografia em confronto com o Diário, dá-nos a exata noção de que dom Eduardo reconstruiu muitos episódios, dando-lhes um tom mais agradável, jocoso; suprimiu alguns fatos que poderiam ferir suscetibilidades, dando um toque literário a muitas anotações, tornando-as mais narrativas, explicando-as, anexando documentos, cartas de eclesiásticos e amigos, pastorais, artigos e notícias de jornais, dando a entender claramente que esta obra Passagens, a sua autobiografia, seria a obra finalizada”, completou.

Romanização
“Dom Eduardo, pastor da Igreja goiana de 1890 a 1907 foi, por excelência, o bispo da romanização da Diocese de Goiás, que à época alcançava todo o Triângulo Mineiro”, frisou, na apresentação do livro, o reitor Wolmir Amado. “Sua atuação junto às principais romarias goianas, Trindade e Muquém, influiu na forma da vivência da religiosidade popular e na assistência religiosa por parte do clero”, afirmou, para completar: “E isto não se deu sem embates. A descrição de dom Eduardo acerca destes conflitos traz à tona debates ainda hoje não de todo resolvidos: a religiosidade popular e a doutrina oficial da Igreja”.

Com descrições ricas em detalhes, ele revela as transformações no campo religioso goiano, a penetração do protestantismo, espiritismo, a presença da maçonaria e idéias liberais. Revela ainda, “ao nosso tempo, o homem e a mulher simples do sertão, com suas crenças, seu modo de vida, sua ingenuidade, características a princípio criticadas pelo Bispo recém chegado da Europa”.

Conforme ressaltou, “dom Eduardo, porém, apesar de imbuído de toda a sua cultura apreendida nas universidades e ambiente eclesiástico romanos, pouco-a-pouco se transforma em admirador daquele povo portador de um coração sincero, religioso, conformado e confinado ao contexto de um sertão longínquo, com uma Igreja ainda impregnada das situações herdadas do padroado régio e marcada pelas vivências populares do catolicismo”.

Durante seu bispado, a Diocese de Goiás passou por importantes mudanças, como a chegada das ordens religiosas que atenderam a seu pedido, vindo atender os locais de romaria, atuando nas obras sociais e na educação, e a própria transferência da sede do bispado da Cidade de Goiás para Uberaba (MG), em 1896.

A descrição que dom Eduardo faz de Goiás e do Triângulo Mineiro, de suas visitas pastorais, dos ‘causos’ ocorridos em suas viagens pelo sertão, “da religiosidade popular e credulidade do matuto são fontes importantes para os que se dedicam a estudar as transformações ocorridas com a proclamação da República, a atuação dos Bispos ligados ao movimento ultramotanista, a reorganização da Igreja brasileira em um novo contexto político brasileiro”, concluiu o professor Wolmir Amado.
Extraído de: http://www2.ucg.br/flash/Flash2007/Novembro07/071129bispo.html

Foto: Weslley Cruz