sexta-feira, 10 de junho de 2011

OS NOVOS AREÓPAGOS HODIERNOS




Murah Rannier Peixoto Vaz
Pioneiramente, ano após ano, a Igreja do Brasil utiliza-se da Campanha da Fraternidade como meio pastoral para atingir as mais diversas realidades de missão, especialmente os novos ambientes de missão ou, seguindo as pegadas de São Paulo, os novos Areópagos. Areópago era o nome dado ao lugar em que os gregos se reuniam para discutir os importantes assuntos de política, filosofia e religião. Era um local para exercer a cidadania por meio das Assembléias, local para debates e exposição de idéias, onde cada um podia fazer uso da palavra e apresentar seus argumentos.
Ao pregar no Areópago de Atenas, Paulo ousou falar daquilo que ainda era incompreensível para os gregos, mensagem tratada como loucura, embora fosse fato constitutivo da fé cristã, a cruz. Paulo não foi muito feliz em sua primeira exposição, mas já ali alguns poucos creram naquilo que era apresentado. A partir desse pequeno grupo, qual o fermento na massa leveda-a e a faz crescer, logo o mundo helênico se viu profundamente tomado pela doutrina cristã.
Nos dias de hoje faz-se mister o uso de uma ousadia e oportunismo aos moldes paulinos e ir ao encontro dos outros nos novos Areópagos hodiernos. São tantos os novos Areópagos que carecem de evangelização que se torna um verdadeiro desafio percorrê-los e se faz necessário uma profunda preparação teológica e vivencial do mistério de Cristo para saber apresentar e conduzir os outros ao conhecimento deste mesmo mistério. De tal modo, é preciso estar aberto às culturas para saber inculturar a mensagem do Evangelho a partir do ambiente e da cultura em que se encontra, e assim, compreendendo como pensam e vivem os povos, se descubra melhores formas para tornar a mensagem cristã compreensível.
Todavia, não se pode prescindir de que também é necessário que ao levar essas mesmas realidades ao encontro com a Boa Nova de Cristo, que liberta e transforma tudo e todos, também essas realidades e culturas sejam iluminadas pela luz evangélica. Para que imbuídos dos valores evangélicos e humanos desempenhem com eficácia suas finalidades. Em síntese, os novos Areópagos precisam ser evangelizados e humanizados para serem evangelizadores e humanizadores.
A Encíclica Redemptores Missio, de João Paulo II, ao abordar a questão dos novos Areópagos, fala de alguns desses ambientes de missão: O mundo das comunicações, de onde a própria cultura moderna é fortemente influenciada, deve ser utilizado como ferramenta para a evangelização.Photo credit: http://www.midiasocialpost.com/midia-social/voce-conhece-100-das-midias-sociais-voce-se-acha-um-expert
Outros Areópagos a serem iluminados pela luz do Evangelho são as áreas de promoção da dignidade humana, como: “o empenho pela paz, o desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo o das minorias; a promoção da mulher e da criança, a proteção da natureza (RM, 37, p.64)”.
Recentemente nos documentos produzidos no último Celam, realizado em Aparecida-SP, fez-se em grande parte uma retomada da Redemptores Missio e, como aprofundamento, apontou-se também: a tarefa missionária de formar pensadores e pessoas que estão nos níveis de decisão, como por exemplo, os “empresários, políticos e formadores de opinião no mundo do trabalho, dirigentes sindicais, cooperativos e comunitários (DAp. 492)”. É fundamental, portanto, a participação dos Católicos na vida civil e política, como forma de testemunhar o Evangelho, sendo “sal e luz”, promovendo a ética e uma verdadeira democracia em cada um desses meios.
Percebe-se que o Documento de Aparecida mostra que há uma necessidade da Igreja se fazer presente nos grandes centros de decisões: os meios de comunicação social que são os grandes formadores de consciência; a cultura, respeitando o que é de valor para cada grupo, povo e nação; nas pesquisas científicas, ampliando o diálogo entre fé e ciência e oferecendo novas possibilidades que não atentem contra a vida e que a coloquem em primeiro lugar; nas relações internacionais para torná-las mais humanas e justas entre as nações.
Contudo, não cessam por aqui os ambientes de missão, há ainda os diversos novos rostos pobres e excluídos contemporâneos, como os enfermos de HIV e de outras enfermidades endêmicas, os migrantes, os encarcerados, os dependentes químicos, as vítimas da prostituição, o trabalho infantil, os moradores de rua, desempregados, refugiados, os analfabetos digitais, os indígenas e afro-americanos, os lavradores sem terra, atingir os moradores das regiões de invasões e favelas sem se descuidar de uma pastoral urbana, dos grandes centros, etc, etc.
Mais do que nunca se faz urgir iniciativas como a Campanha da Fraternidade e o irromper das Pastorais sociais e Comissões como a “Justiça e Paz” para que se possa implementar uma pastoral missionária efetiva e afetiva para com a massa dos desfavorecidos e excluídos de nossa sociedade, tirando-os de sua massificação e elevando-os à sua real dignidade humana de pessoa. Sem perder de vista, é óbvio, que a maior pobreza é não reconhecer o mistério de Deus e a presença de seu amor na vida da humanidade.
BIBLIOGRAFIA:
Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2008.
CELAM. Documento de Aparecida. São Paulo: Paulus; São Paulo: Paulinas; Brasília: Edições CNBB, 2007, p. 181-191.
PAULO II, João. Redemptoris Missio. São Paulo: Paulinas, 1991, p. 52-67.

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