sábado, 22 de outubro de 2011

A ALTÍSSIMA VOCAÇÃO HUMANA


Murah Rannier Peixoto Vaz

É maravilhoso saber de tão alta dignidade goza o homem, pois apenas ele em todo o Kosmos criado é um ser a imagem e semelhança de Deus e capaz de encontrar e revelar a face de Deus. Muito me alegro por me colocar em relação com Deus que em sua gratuidade deu-me a vida. Ainda há algo me chama atenção no homem em seu ser imagem e semelhança de Deus, é que este ser imagem e semelhança é um ser em processo de configuração a Deus, ele está sempre a caminho, justamente por ser livre, por isso nesse dinamismo o homem é convidado a sempre de novo optar por Jesus e seu caminho que leva ao Pai, pela força do Espírito.

Por ser pessoa, o homem pode estar ou na proximidade ou no afastamento de Deus, sabemos, no entanto, que o homem se realiza quando é imagem e semelhança. Pois ser imagem e semelhança é estar na proximidade, ou seja, uma constante capacidade de dialogar com Deus, ser filho, amar.

A imagem de Deus no homem é, ou seja, não muda, permanece, ainda que seja ferida pelo pecado. Portanto, mesmo que a firam, mesmo que seja deformada e obscurecida pelo pecado, ela continua sendo no homem, pois ele não a perde. No entanto, a semelhança de Deus no homem não é algo petrificado, pronto e acabado, mas dinâmico. Enquanto que a imagem permanece no homem, a semelhança é passível de perda à medida que o homem se afasta do projeto do Criador, afastando-se da relação para qual é convidado a viver. Isso se dá porque a semelhança está ligada às atitudes do homem, ela depende de sua abertura para a relação e comunhão com seu Criador. O homem, em sua liberdade, é o responsável pela sua semelhança, quando sempre mais busca assemelhar-se a Deus, ou por sua dessemelhança mediante o pecado que macula e destrói a semelhança no homem. Contudo, seria temerário dizer que o homem assemelha-se a Deus simplesmente por si, pois este recebeu a graça que o impulsiona a viver segundo a imagem e semelhança de seu Criador. Mesmo o desejar viver em relação com Deus advém da Graça.

Todavia, quando o homem dá passos em direção ao convite divino, quanto mais ele se relaciona com a verdade, que também é uma pessoa, mais ele se abre para que ocorra um gradual processo de assimilação da verdade, que, por conseguinte, acaba também por iluminar a liberdade humana com sua luz. De tal forma, quanto mais o homem se relaciona e se comunica com Deus, tanto mais ele, em sua totalidade, se torna a imagem e semelhança de seu Criador.

Ao nos perguntamos: “Que é o homem?” evocamos o mistério e nele somos provocados a perguntar por Deus. Isso se dá devido o caminho de acesso para o divino passar pela mediação do humano. Olhando-o somos impelidos a olhar além dele, para contemplar o “Protótipo” do qual o homem é imagem e semelhança. Não se pode falar da imagem sem se referir ao seu Protótipo, pois não se pode falar de homem sem falar simultaneamente de Deus. Falar do homem esquecendo-se de seu Autor, daquele que lhe imprimiu a Sua imagem e semelhança não é falar do homem, mas falseá-lo.

Engana-se quem pensa que o homem é capaz de vivenciar esse processo por si só, com suas próprias forças, pois somente mediante a graça o homem consegue se superar, ir além de si mesmo, transcender-se. Equivoca-se aquele que pensa alcançar a transcendência simplesmente na horizontalidade, na realidade imanente, histórica e material, quando na verdade só a pode encontrar se se reconhece unida à verticalidade, escatológica, transcedente e suprasensível. Porém, em Cristo, ambas as realidades foram reunidas e nele podemos antever o Reino “já” aqui, mesmo que “ainda não” em sua plenitude. Unir-se a Cristo e fazer-se um com Ele pela regeneração e inserção batismal é fazer-se um com toda a Trindade. Como diz São Paulo na I Carta aos Coríntios, agora vemos como que por um espelho, enxergamos em parte, mas então veremos face a face.

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