Estupefato e perplexo, literalmente boquiaberto... esses são os termos
que aplicaria às atitudes e sentimentos que me percorreram na manhã da última
segunda-feira, dia 11 de janeiro, ao ser informado do anúncio da renúncia do
Romano Pontífice, o Papa Bento XVI.
Trata-se de um gesto corajoso e de humildade, diante de suas próprias
limitações de saúde e de idade (Bento XVI completará 86 anos em abril, é o Papa
mais idoso dos últimos 100 anos e o 6º mais idoso desde 1400), bem como, a
necessidade de vigor físico para cumprir a agenda papal e bem administrar e
pastorear a Igreja. Entretanto, não é a primeira vez que isso ocorre, em 1294,
Pietro Angeleri, um frade benedito, que abraçou a vida de ascese e vivia em
reclusão como um eremita e sem qualquer pretensão de ser Papa, foi buscado em
uma caverna e levado para tomar posse, pois sendo desconhecido e sem qualquer
partido haveria de por fim ao extenso conclave que já durava dois anos devido à
divisão do colégio cardinalício em apoiar à duas famílias: Colonna e Orsini.
Além disso, havia se estendido também por causa de um surto de peste que
provocou a morte de muitas pessoas naquele período. Pietro Angeleri, já com 79
anos, assumiu o nome de Papa Celestino V, mas cinco meses depois renunciou por
não se sentir preparado para assumir a liderança da Igreja.
Curiosamente, Bento XVI fez uma visita ao túmulo de Celestino V em
Áquila, em 2009, e outra visita às suas relíquias em Sulmona (próximo à Roma),
em 2010. A hipótese da renúncia já tinha sido apresentada por Bento XVI no
livro-entrevista "Luz do Mundo", de Peter Seewald, publicado em 2010.
Ao ser questionado com a seguinte pergunta "É, portanto imaginável uma
situação na qual Vossa Santidade considere oportuno que o Papa renuncie?"
Bento XVI havia respondido: "Sim. Quando um Papa chega à consciência clara
de não estar mais em condições física, mental e espiritualmente de desempenhar
o cargo que lhe foi confiado, então tem o direito e nalgumas circunstâncias até
o dever de renunciar". Outros Papas deixaram o Pontificado em outros
momentos da história, mas não como uma renúncia voluntária e espontânea, tal
como a de Celestino V e Bento XVI.
No entanto, é com um misto de pesar e esperança que nos despedimos e
viveremos os próximo dias até 28 de janeiro, data em que oficialmente Bento XVI
apresentará a sua renúncia. Deste dia em diante a Sé Apostólica estará vacante
e iniciará um período de expectativa e orações por Bento XVI e por aquele
calçará as “sandálias do pescador”, o futuro sucessor de Pedro, aquele há de
segurar as chaves (Mt 16, 18) e apascentar o rebanho de Cristo (Jo 21, 15-17),
confirmando os irmãos da fé (Lc 22, 32).
Obrigado, Bento XVI, "Papa certo das horas incertas", por ter
guiado com coerência, segurança e firmeza, na verdade e, sobretudo, na
caridade, "a barca de Pedro" que é a Igreja de Cristo.
“Veni Creator Spiritus...”
Att. Murah Rannier Peixoto Vaz
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