sexta-feira, 19 de julho de 2013

CAUSA E EFEITO





Murah Rannier Peixoto Vaz

Sob um exemplo simples observado, como o ato de empurrar (causa inicial da aceleração) um objeto, e este se locomover no tempo e espaço, até que sob a força de atrito este pare e venha a encontrar repouso, observamos que para que o objeto viesse mover-se foi preciso que houvesse algo que o impelisse, uma força que causasse a impulsão. Por outro lado, ao mesmo tempo encontramos uma força contrária, o atrito (causa final da aceleração), que faz com que o objeto venha a fazer uma desaceleração a partir do momento em que foi impelido. Se tudo o que existe tem uma causalidade, não teria também o mundo uma força que o tivesse impelido a ser como é? Haveria uma causa inicial e final neste caso também?

Um bom exemplo nos é dado por Voltaire (provavelmente influenciado pelo pensamento Cartesiano). Para ele, ao olharmos uma máquina supomos que exista um mecânico, e que ao olharmos um relógio, com toda a complexidade de peças, engrenagens, parafusos e tudo o mais que nele há, também supomos que alguém o fez. Portanto, o relógio é uma prova inquestionável de que há o relojoeiro.

Alguns diriam: _A tese de que aquilo que existe veio de um Deus pessoal já é ultrapassada, sabemos que o mundo surgiu ao acaso a partir do big-bang, e daí a alguns milhares anos depois surgiu a vida a partir da evolução de minúsculos seres, até chegarmos aos peixes e passando pelos répteis, progressivamente chegando aos mamíferos e então aos primeiros hominídeos que de uma hora para outra, desenvolveram-se ao ponto, de adquirirem a razão. Curiosamente nessa mesma afirmativa aparece um pequeno e determinante detalhe: segundo alguns afirmam, somos primos dos macacos, temos ancestrais comuns e, mesmo assim, somos e agimos de formas tão diferentes. Não seria tudo isto obra de Deus, algo planejado, ou seja, idéia do próprio criador? Afirmar que a causa de tudo é o acaso é o mesmo que fazer adesão de fé ao nada.

Outros questionarão: _Ah, mais os religiosos não dizem que não condiz evolução com criação? Alguns sim, pois não compreendem o Gênesis, não interpretam a poesia da alegoria do Gênesis e fecham-se num pensamento que não abrange a totalidade. Esse não é o pensamento de todos e nem o da Igreja.



Sendo assim, Deus cria do nada uma matéria informe e a ela molda e dá forma. E isto Ele faz na mobilidade e mudança das coisas que é o que nos dá a possibilidade de perceber este espaço e tempo em que estamos inseridos. Segundo Agostinho, a mutabilidade não pode vir de Deus, pois Ele não pode ser e não ser ao mesmo tempo, pois é o Imutável e sua substância jamais varia com o tempo. A vontade de Deus vem de sua substância,

deste princípio deduz-se que Deus não quer ora isto, ora aquilo, mas que o que uma vez quis, simultaneamente e para sempre o quer. Não pode querer repetidas vezes nem querer agora uma coisa e logo outra, nem querer depois o que antes não queria ou deixar de querer o que queria, porque tal vontade sendo mutável, não é eterna; ora, o nosso Deus é eterno.

Entretanto, também segundo Agostinho, não pode haver tempo sem a variedade de movimentos: “Deus (...) não criou o mundo por um novo ato de vontade, e (...) nem a sua ciência pode sofrer alguma transição.” Sabendo disso como podemos compreender então, um mundo onde as coisas mudam?

Os evolucionistas concebem que tudo está em mutação, os religiosos cristãos dizem que tudo já foi criado desde o princípio e, assim, não admitem a evolução das espécies darwinista. No entanto, apesar de não ser aceita a evolução tal qual apresenta Darwin, a partir do proposto por Agostinho (grande pensador e santo cristão), há a possibilidade de se afirmar uma espécie de evolucionismo aceito por cristãos. Segundo esse viés agostiniano, permanece a imutabilidade, a qual fica contida nas razões seminais (rationes seminales), onde, de fato, tudo já foi criado no princípio, mas está para vir à tona. Pois, como uma semente que espera para germinar e se tornar uma planta, assim estão os germens que o criador colocou na natureza, desta forma pode se traçar um paralelo entre evolução darwinista e criação cristã. Com este pensamento, já na criação tudo o que há e está por vir a ser, já foi criado, pois está desde o princípio nas idéias de Deus ou projeto divino, e contido como germens prontos para brotar em seu devido momento.

Seguindo esta linha de raciocínio, ao pensar sobre o ser humano, nos deparamos com a mesma questão que indagou Pascal:

Que é o homem na natureza? É nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao nada, algo de intermediário entre o nada e o tudo. Infinitamente distante de poder abraçar os extremos, o princípio e o fim das coisas lhe estão irremediavelmente ocultos em um impenetrável segredo, pois ele é igualmente incapaz de ver o nada do qual foi extraído, e do infinito pelo qual foi engolido.

Ou seja, vemos aqui a miséria e a grandeza do homem, sua grandiosidade em meio ao mundo, mas ainda assim um “caniço pensante”, que por pensar, torna-se grande e tornando-se grande percebe e reconhece sua pequenez, diante daquele que é infinitamente maior que ele.

Como se percebe, o mundo não surgiu de um nada ao acaso. É mais razoável e crível crer que o mundo foi feito pelo Criador Ex Nihilo (do nada), mas não que já tenha feito todas as coisas como são hoje. Seguindo o que fora dito por Agostinho, é possível conceber o big-bang e um possível evolucionismo, não tal qual o de Darwin, mas um evolucionismo que faz com que as coisas venham a ser outras, as quais não eram. Mas isto, somente a partir da concepção de criação total, pronta e acabada nas idéias Eternas de Deus, onde estão inseridos os germens, ou como diria Aristóteles a potência, e sendo tudo isto operado por Deus, artífice e razão de nossa subsistência. Considerando, no entanto, que esse mesmo Ser que é a causa, criador e princípio de tudo, é incausado, incriado e eterno, ou seja, sem um princípio, sem causa e que existe fora do tempo. Diria Aristóteles que Deus é o “motor imóvel” que move todos os outros motores.

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