Murah Rannier Peixoto Vaz
Sob
um exemplo simples observado, como o ato de empurrar (causa inicial da
aceleração) um objeto, e este se locomover no tempo e espaço, até que sob a
força de atrito este pare e venha a encontrar repouso, observamos que para que
o objeto viesse mover-se foi preciso que houvesse algo que o impelisse, uma
força que causasse a impulsão. Por outro lado, ao mesmo tempo encontramos uma
força contrária, o atrito (causa final da aceleração), que faz com que o objeto
venha a fazer uma desaceleração a partir do momento em que foi impelido. Se
tudo o que existe tem uma causalidade, não teria também o mundo uma força que o
tivesse impelido a ser como é? Haveria uma causa inicial e final neste caso
também?
Um
bom exemplo nos é dado por Voltaire (provavelmente influenciado pelo pensamento
Cartesiano). Para ele, ao olharmos uma máquina supomos que exista um mecânico,
e que ao olharmos um relógio, com toda a complexidade de peças, engrenagens,
parafusos e tudo o mais que nele há, também supomos que alguém o fez. Portanto,
o relógio é uma prova inquestionável de que há o relojoeiro.
Alguns
diriam: _A tese de que aquilo que existe veio de um Deus pessoal já é
ultrapassada, sabemos que o mundo surgiu ao acaso a partir do big-bang, e daí a
alguns milhares anos depois surgiu a vida a partir da evolução de minúsculos
seres, até chegarmos aos peixes e passando pelos répteis, progressivamente
chegando aos mamíferos e então aos primeiros hominídeos que de uma hora para
outra, desenvolveram-se ao ponto, de adquirirem a razão. Curiosamente nessa
mesma afirmativa aparece um pequeno e determinante detalhe: segundo alguns
afirmam, somos primos dos macacos, temos ancestrais comuns e, mesmo assim,
somos e agimos de formas tão diferentes. Não seria tudo isto obra de Deus, algo
planejado, ou seja, idéia do próprio criador? Afirmar que a causa de tudo é o
acaso é o mesmo que fazer adesão de fé ao nada.
Outros questionarão: _Ah, mais os religiosos
não dizem que não condiz evolução com criação? Alguns sim, pois não compreendem o Gênesis, não interpretam
a poesia da alegoria do Gênesis e fecham-se num pensamento que não abrange a
totalidade.
Esse não é o pensamento de todos e nem o da Igreja.
Sendo
assim, Deus cria do nada uma matéria informe e a ela molda e dá forma. E isto
Ele faz na mobilidade e mudança das coisas que é o que nos dá a possibilidade
de perceber este espaço e tempo em que estamos inseridos. Segundo Agostinho, a
mutabilidade não pode vir de Deus, pois Ele não pode ser e não ser ao mesmo
tempo, pois é o Imutável e sua substância jamais varia com o tempo. A vontade de
Deus vem de sua substância,
deste
princípio deduz-se que Deus não quer ora isto, ora aquilo, mas que o que uma
vez quis, simultaneamente e para sempre o quer. Não pode querer repetidas vezes
nem querer agora uma coisa e logo outra, nem querer depois o que antes não
queria ou deixar de querer o que queria, porque tal vontade sendo mutável, não
é eterna; ora, o nosso Deus é eterno.
Entretanto,
também segundo Agostinho, não pode haver tempo sem a variedade de movimentos: “Deus
(...) não criou o mundo por um novo ato de vontade, e (...) nem a sua ciência
pode sofrer alguma transição.” Sabendo disso como podemos compreender então, um
mundo onde as coisas mudam?
Os
evolucionistas concebem que tudo está em mutação, os religiosos cristãos dizem
que tudo já foi criado desde o princípio e, assim, não admitem a evolução das
espécies darwinista. No entanto, apesar de não ser aceita a evolução tal qual apresenta
Darwin, a partir do proposto por Agostinho (grande pensador e santo cristão), há
a possibilidade de se afirmar uma espécie de evolucionismo aceito por cristãos.
Segundo esse viés agostiniano, permanece a imutabilidade, a qual fica contida
nas razões seminais (rationes seminales),
onde, de fato, tudo já foi criado no princípio, mas está para vir à tona. Pois,
como uma semente que espera para germinar e se tornar uma planta, assim estão
os germens que o criador colocou na natureza, desta forma pode se traçar um
paralelo entre evolução darwinista e criação cristã. Com este pensamento, já na
criação tudo o que há e está por vir a ser, já foi criado, pois está desde o
princípio nas idéias de Deus ou projeto divino, e contido como germens prontos
para brotar em seu devido momento.
Seguindo
esta linha de raciocínio, ao pensar sobre o ser humano, nos deparamos com a
mesma questão que indagou Pascal:
Que
é o homem na natureza? É nada em relação ao infinito, é tudo em relação ao
nada, algo de intermediário entre o nada e o tudo. Infinitamente distante de
poder abraçar os extremos, o princípio e o fim das coisas lhe estão
irremediavelmente ocultos em um impenetrável segredo, pois ele é igualmente
incapaz de ver o nada do qual foi extraído, e do infinito pelo qual foi
engolido.
Ou
seja, vemos aqui a miséria e a grandeza do homem, sua grandiosidade em meio ao
mundo, mas ainda assim um “caniço pensante”, que por pensar, torna-se grande e
tornando-se grande percebe e reconhece sua pequenez, diante daquele que é
infinitamente maior que ele.
Como se percebe, o mundo não surgiu de um nada ao acaso. É mais razoável e crível crer que o mundo foi feito pelo Criador Ex Nihilo (do nada), mas não que já tenha feito todas as coisas como são
hoje. Seguindo o que fora dito por Agostinho, é possível conceber o big-bang e
um possível evolucionismo, não tal qual o de Darwin, mas um evolucionismo que
faz com que as coisas venham a ser outras, as quais não eram. Mas isto, somente
a partir da concepção de criação total, pronta e acabada nas idéias Eternas de
Deus, onde estão inseridos os germens, ou como diria Aristóteles a potência, e
sendo tudo isto operado por Deus, artífice e razão de nossa subsistência.
Considerando, no entanto, que esse mesmo Ser que é a causa, criador e princípio
de tudo, é incausado, incriado e eterno, ou seja, sem um princípio, sem causa e
que existe fora do tempo. Diria Aristóteles que Deus é o “motor imóvel” que
move todos os outros motores.
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