terça-feira, 14 de junho de 2011

Pneumatologia - 1ª Parte

FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA PNEUMATOLOGIA CRISTÃ NO ANTIGO TESTAMENTO
Murah Rannier Peixoto Vaz
A experiência de Israel com o Espírito de Deus já se reflete na pronúncia do vocábulo ruah, que acontece como um movimento de ar e respiração surpreendentemente forte, ar que como sabemos é necessário para a vida, ar que às vezes experimentamos por uma respiração tranqüila, mas também, às vezes como um vento devastador, isso porque para o homem do Antigo Testamento tudo provém de Deus, tudo é designado como ruah. Até as forças demoníacas são subordinadas a Deus, de modo que às vezes ele próprio aparece como seu causador como se constata em 1Sm 16,14-23. O termo ruah é quase sempre feminino, isso porque o Deus como ruah revela-se de modo particular nos papéis maternos da criação, manutenção e proteção da vida, fazendo-a surgir como fazem as mães. Com isso, no contexto teológico, ruah se refere à força vital dinâmica criadora, estando intrinsecamente unidos Espírito e vida.
A primeira atuação do Espírito ao povo de Israel foi a experiência da salvação, onde o próprio Deus tira Israel da casa da escravidão que é o Egito, e o conduz para a terra prometida. E isso o faz “Com mão forte e com braço estendido, sob grande espanto, sob sinais e prodígios” (Dt 26,8). Israel experimenta diretamente a atuação do Espírito, como vemos no tempo dos juízes o Espírito de Deus “impele” a Sansão (Jz 13,25), “sobrevêm” a Otoniel (Jz 3,10) e a Jefté (11,29), “reveste” a Gedeão (6,34), e em muitos outros casos como na saga de Sansão, o Espírito demonstra seu poder salvador.
No Antigo Testamento também vemos a experiência do Espírito como êxtase profético que acontece nas confrarias dos filhos de profetas. Como aconteceu a Saul e está relatado em 1Sm 10,5-13, contudo, o êxtase não representa um aspecto específico e necessário para a experiência mesmo vetero-testamentária do Espírito.
Em todos os momentos importantes de Israel se constata pela palavra a ação do Espírito, por exemplo, na instituição da monarquia vemos em 1 Sm 10,10 que: “O Espírito de Deus (ruah Elohim) veio sobre Saul, e Saul entrou em êxtase profético no meio deles”. E o mesmo Espírito depois se retira de Saul por causa de seu pecado e passa para Davi, é onde começa um ciclo em que Deus sempre luta para restabelecer a aliança com o povo.
Já na vida dos profetas a ação do Espírito é tamanha que às vezes o próprio ruah é quem fala em nome de Deus. Em Ezequiel 11,5 lemos: “Então o Espírito de Javé veio sobre mim e me disse: Fala: Assim diz o Senhor...” Contudo, em alguns momentos vê-se a falta de invocação ao Espírito, provavelmente por causa dos constantes confrontamentos com falsos profetas aos quais lhes sobrevinham um espírito de mentira. Mas, voltando à experiência de Ezequiel, vemos um aprofundamento teológico na concepção de ruah “vento”, pois, o profeta se sente levantado e levado (Ez 3,14) ou arrebatado (8,3) pela ruah de Deus (11,24) esses arrebatamentos introduzem muitas vezes a uma visão reveladora. De forma geral nos profetas, o Espírito leva sempre à comunhão com a vontade de Deus formando um a unidade.
No Exílio se tem um momento crucial do relacionamento do Espírito com o profeta, sua ação adquire formas mais nítidas como “ruah Yahweh” desdobrando-se em criação e nova criação. Na primeira já vemos no livro de Êxodo onde a ruah de Javé teve papel decisivo na travessia pelo mar, fazendo o mar retirar-se (14,21) ou fazendo as massas de água se amontoarem (15,8). Além de Salmos pós-exílicos como o 104 que celebra o poder criador da própria ruah, e mais, já no relato da criação do escrito sacerdotal vê-se radicada as mesmas tradições, de que a ação do Espírito é uníssona à obra da criação de Deus.
O sentido da nova criação é uma nova vida, um novo espírito como é apresentado por Ezequiel no capítulo 37, pois, o Espírito de Deus atua na linha divisória entre a morte e a vida, e o Espírito de Deus recria como que tirando do túmulo dando-lhe vida nova marcada pela comunhão.
A ação do Espírito é sempre voltada para o bem coletivo mesmo quando o Espírito é concedido a indivíduos eleitos como os reis messiânicos, além dos profetas como já vimos. Assim, o Espírito nunca é concedido como posse pessoal, mas para a edificação de um reino de justiça e de paz. No AT a ruah de Javé é a força criadora de Deus que presenteia e mantém a vida, que atua no cosmo, intervém de maneira salvadora na história e promete vida nova e definitiva para o indivíduo na comunidade.

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