sábado, 4 de dezembro de 2010

Grande exemplo...


Do alto da Penha, pároco não deixou de rezar nem mesmo nos piores momentos do conflito

Isolado dentro da igreja, padre Serafim rezava enquanto bandidos armados circulavam do lado de fora trocando tiros com a polícia. Ele espera, agora, dias de paz na região.

O olhar sereno do padre Serafim Fernandes, há 14 anos vivendo e observando a cidade do alto da Igreja da Penha, na Zona Norte do Rio, não dá ideia da tensão no conjunto de favelas que ele viu crescer aos pés do santuário. Durante os conflitos ocorridos na última semana, que livraram a região do jugo do tráfico de drogas, o padre chegou a ficar isolado dentro da igreja, enquanto traficantes observavam a movimentação de militares do lado de fora.

– Eu não abandonei o Santuário. Não só pelo Santuário, mas também em solidariedade a todas essas milhares de pessoas que estavam sofrendo. Muitas tentaram me tirar daqui. Chegou a vir carro para me levar, mas disse que não abandonaria o Santuário, nem as pessoas que estavam sofrendo – afirma o pároco.

Enquanto concedia a entrevista com o cinturão de favelas às suas costas, o religioso explicou que uma tarde toda não seria suficiente para relatar o terror que passou.

– Tivemos momentos muito difíceis. Já vi muita coisa aqui, pessoas morrerem na minha frente, jovens, mães desesperadas. Na quarta-feira passada quando a televisão flagrou os meninos (traficantes) lá em cima, na grade, eu estava dentro da igreja, impotente, inclusive sem poder me comunicar – diz Fernandes.

As rezas pela paz não são de ocasião. Foram diárias durante anos. Ele explica que isso chegou a causar certa irritação entre os fiéis.

– Os desabafos dos fiéis eram inerentes a essa situação de sofrimento. Inclusive, em todos esses anos que eu estou aqui no Santuário da Penha, na missas e celebrações, eu rezo pela paz. E algumas pessoas começaram a questionar com um certo ceticismo dizendo: 'O senhor está rezando pela paz, mas essa paz não acontece' – disse.

Padre Serafim diz que viveu momentos muitos difíceis, perdeu noites de sono, passou dias de muita angústia, mas nunca desanimou nem perdeu sua fé. Ele diz encarar sua atuação no Santuário da Penha e nas comunidades vizinhas com espírito de missão.

– Eu estaria faltando com a verdade se não admitisse que houve um esvaziamento muito grande, por mais que a a gente se esforçasse para atrair os visitantes, com melhorias na medida das nossas possibilidades. Mas o ambiente não favorecia, o clima não favorecia. Então, notamos sim esse esvaziamento – diz o padre sobre outra consequência do clima de terror imposto pelos traficantes foi o afastamento progressivo do número de fiéis das missas.

Hoje, passados todos os tormentos, dificuldades e sofrimentos, o padre diz estar encarando o momento com muita expectativa e esperança.

– Eu acredito que para quem tem fé, onde há crise, há esperança. Então, eu tenho fé e desejo que as coisas vão tomar um rumo diferente. Eu estou acreditando na boa fé, na boa intenção dos nossos governantes, do prefeito, do governador Sérgio Cabral, que se preocupou comigo, quis saber como eu estava, eu agradeço muito essa preocupação. E no que diz respeito a projetos e iniciativas para a região estou muito esperançoso que eles vão cumprir o que estão anunciando.

E para marcar o momento de virada no astral, a prefeitura do Rio anunciou que este será o réveillon da paz na Penha e as festas no Santuário e seu entorno ganharão um reforço extra. A expectativa é que, sem medo, cerca de 200 mil pessoas queiram acompanhar a queima de fogos das ruas. Outra boa notícia, é a possibilidade de a Igreja da Penha ser tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Fonte: http://sergiocabral.com.br/acontece-do-alto-da-penha-paroco-nao-deixou-de-rezar-nem-mesmo-nos-piores-momentos-do-conflito

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