quarta-feira, 13 de outubro de 2010

ENTREVISTA SOBRE BIOÉTICA - PARTE II (FINAL)

3 – O uso de células-tronco é um tratamento promissor que salvaria milhares de vidas futuramente. Qual sua opinião sobre esse tipo de tratamento?
Como abordei na questão anterior com a citação de Carlos Serrano, os fins não justificam os meios. A vida é um princípio fundamental da Constituição brasileira como se pode constatar em seu art. 5º assim como na Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas cujo Artigo III prevê que “Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.”
Cabe lembrar também que o Código Civil brasileiro em seu art. 2º: “põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro”. Conceituação semelhante é dada no Pacto de São José (tratado internacional de direitos humanos no qual o Brasil é signatário), ao determinar em seu artigo 4º: “Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito está protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção”.
Realmente o uso de células-tronco é um tratamento promissor, mas usar células embrionárias significa sacrificar ou lesar o embrião e ignorar que ele já é detentor de um código genético único, original, e irrepetível, sendo que pode se dispor do uso de células adultas, presentes em cordões umbilicais, placentas e na medula óssea, todavia estas adultas possuem capacidade limitada de diferenciação e essa era a grande afirmação para o uso das células embrionárias. Entretanto, em 2007, através da descoberta de uma nova técnica: a reprogramação consiste em utilizar células humanas adultas da pele para criar células-tronco embrionárias "induzidas", ou seja, elas “voltam no tempo” se transformando novamente em células-tronco embrionárias, e posteriormente podem se diferenciar em outros tecidos do corpo.
Uma pesquisa coordenada pelo neurocientista do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Stevens Rehen, e pelo biomédico Martin Bonamino, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), a partir de células adultas produziu-se pela primeira vez células pluripotentes no Brasil, ou seja, células capazes de se transformarem em vários tipos de tecidos. Assim o Brasil torna-se o quinto país do mundo a produzir células pluripotentes induzidas.
Sou totalmente a favor do uso das células tronco adultas, pois estas não ferem o embrião, não tiram o seu direito a inviolabilidade da vida de sua fase inicial à fase final e podem promover o tratamento e cura de mais de setenta doenças como o mal de Parkinson, Alzheimer, doenças cardíacas, coronárias e até mesmo na recuperação de pessoas paraplégicas. Mas com todos esses avanços científicos e possibilidades abertas é no mínimo incoerente continuar a insistir com o uso de células embrionárias.
4 - Alguns casais fazem tratamentos para ter filhos. Uma das opções é a fertilização in vitro, por não ser um processo natural, qual seria a posição da Igreja?
Com toda certeza é uma questão delicada a fertilização in vitro, pois rompe com o processo natural e biológico da natureza e esse, apesar de ser um problema não é o único. Outra grande questão é o que fazer com o excedente de embriões? Podem ser utilizados em experiências científicas? A quem pertencem? Podem ser descartados, destruídos? Podem ser doados a outro casal?
É delicado dizer algo assim a quem sonha ter seus filhos biológicos, mas penso que casais que não tem condições de ter filhos por vias biológicas naturais ou através de métodos terapêuticos éticos poderiam adotar crianças ao invés de se fecharem em seu egoísmo. De tal forma não teríamos a problemática do que fazer com os embriões excedentes que não podem ser descartados ou destruídos por se tratarem de humanos em potência. Além de tudo, através do ato de adoção dá-se a uma criança a possibilidade de crescer em um lar, e os pais adotivos colocam-se a serviço da vida. No entanto, muitos por uma vontade de ter seu próprio filho, usam se dos meios possíveis para alcançar esse sonho, esquecendo-se de que os embriões restantes do experimento são vidas iniciadas e filhos em potência, assim como aqueles que vierem a nascer.
A conclusão é que a Igreja posiciona-se de forma contrária a fertilização como pode ser observado na afirmação de Dom Sérgio da Rocha:
“a posição do Magistério da Igreja é contrária à fecundação artificial, seja heteróloga ou homóloga, embora procurando compreender os anseios do casal em dificuldades que busca a geração de um filho, e valorizando o serviço prestado pelas ciências na busca de soluções para casais com problemas nesse campo. ( ROCHA, D. Sérgio da)”.
Somos vocacionados (chamados) a vida, ela é um dom de Deus do qual não podemos prescindir, nós somos apenas administradores da vida confiada a nós. Portanto, a escolhamos e a promovamos como cuidadores da vida em todos os seus estágios.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
DINIZ, Maria Helena. O Estado Atual do Biodireito. São Paulo: Saraiva, 2001.
ORG: LEONE, Salvino; PRIVITERA, Salvatore; DA CUNHA, Jorge Teixeira. Dicionário de Bioética. Aparecida: Santuário, 2001.
ROCHA, D. Sérgio da, Questões atuais de teologia moral. Encontro de Formação de Presbíteros/ Sub-Regional de Ribeirão Preto – 04 à 06/09/2007
OLIVEIRA GUIMARÃES, João Vitor Mello de O uso científico de células-tronco embrionárias e o direito à vida.


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