quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ROSTO DIVINO DO HOMEM, ROSTO HUMANO DE DEUS.



A face de Jesus no Evangelho de Marcos.

Murah Rannier Peixoto Vaz

Do início, em seu primeiro versículo, até o final do Evangelho, Jesus o “Filho de Deus” é uma afirmação que perpassa o texto de Marcos. Percebe-se nisso a nítida intenção de que reconhecer que Jesus é o “Filho de Deus” é uma das finalidades do Evangelho de Marcos e a face de Jesus mais marcante em todo o seu texto.


O Jesus de Marcos vem fazer oposição ao Imperador Romano, destaque para essa oposição é dizer que Jesus é o “Filho de Deus”, atributo dado ao Imperador. Marcos ressalta também um Jesus cuja face é sua entrega pelo povo para a salvação de seus pecados. Diferentemente do Imperador Romano que só cuida de seus interesses particulares.

Bem no coração do Evangelho, Jesus pergunta a seus discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” (8, 27). Na resposta dos discípulos é notória a confusão que o povo e mesmo os próprios discípulos de Jesus faziam a respeito de sua pessoa. Parece ser o fracasso de Jesus, mas Pedro toma a palavra e diz: “Tu és o Cristo”, quer dizer o messias enviado por Deus para salvar seu povo.

O Evangelho de Marcos parece ser o mais milagreiro, ao todo são 18 milagres, entre eles quatro exorcismos de espíritos impuros, os quais reconhecem Jesus como o “santo de Deus” (1, 24) e o filho do “Deus altíssimo” (5, 7). Tal reconhecimento por seres como os demônios vem comprovar a identidade divina de Jesus.

Porém, na segunda parte do Evangelho há um Jesus diferente, apresentado como o “filho do homem”, um tanto quanto misterioso e ligado a figura do “Servo sofredor” do livro de Isaías. Aparentemente, Marcos usa esse termo para apresentar a dupla natureza de Jesus, todo Deus e todo homem. Enquanto Deus aquele que vem assumir sobre si a redenção da humanidade, mas enquanto homem oferecendo-se em sacrifício, passando pelo sofrimento, rejeição e a morte, mas finalmente vencendo a morte e ressuscitando ao 3º dia.

Marcos partilha com os leitores as emoções de Jesus, seus sofrimentos, sua fraqueza, sua esperança e no capítulo 14, 32 o medo de Jesus diante do sofrimento e sua angústia perante a morte. Mas ao mesmo tempo, Marcos apresenta um Jesus que impera (dá ordens) à doença, à morte, aos demônios, aos homens, às forças da natureza.

Outras particularidades que podem ser vista como atributos que apresentam a nós o rosto de Cristo e sua personalidade no Evangelho de Marcos:

O ungido do Espírito Santo (1, 10).

Aquele que ensina com autoridade (1,22) e age com autoridade (4, 41).

Dependendo da tradução - Irado/ compadecido (1, 41).

Alguém que toca e se deixar tocar pelas pessoas (1.41 e 5.27)

Um Jesus em tudo humano que come, bebe, tem fome e fica exausto (2.16; 15.36; 11.12; 4.38-39);

Mestre (6, 2; 11,21; 14,45).

Homem da caridade (9, 41).

Carpinteiro, filho de Maria (6, 3).

O rei que expulsa os seus adversários (3, 13-19; 6, 7-13 ).

Rei dos Judeus (15, 16).

Cidadão (12, 17).

Senhor de Davi (12, 37).

Homem da oração (14, 32).

Conclui-se que a divindade de Jesus é especialmente realçada pela sua humanidade. É como dito por Leonardo Boff, “Alguém tão humano só podia ser divino”.

Bibliografia:

Bíblia Edição Pastoral, 57ª Impressão, outubro de 2005.

Bíblia de Jerusalém, 5ª Impressão, São Paulo: Paulus, 2005.

Bíblia Sagrada - Tradução da CNBB, 2ª Edição, Várias Editoras, 2002.

SCHIAVO, Pe. Luigi. Seguidores de Jesus – O caminho dos discípulos a partir do Evangelho de Marcos. Livreto publicado pela Arquidiocese de Goiânia, Goiânia, 2006.

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